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Robôs invadem Wall Street e deixam reguladores lentos para trás

O trading automático já foi culpado por contribuir com diversos problemas, como o "flash crash" das bolsas dos EUA em Maio de 2010 e a volatilidade durante a crise da dívida soberana europeia. Ainda assim, quando os órgãos reguladores tentaram intensificar a fiscalização, encontraram uma forte oposição do sector.

24 de Outubro de 2017 às 14:38
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As tecnologias que revolucionam Wall Street deixaram os órgãos reguladores de Washington numa correria.

 

Os traders costumavam deixar pilhas de papel quando violavam a lei — e-mails que revelavam que eles tinham informações privilegiadas sobre os resultados de uma empresa, mensagens instantâneas que explicitavam uma conspiração para manipular preços ou gravações de conversas telefónicas em que uma dica quente e ilegal era discutida.

 

Agora, os órgãos de fiscalização do governo têm que descobrir como analisar o interior das máquinas que executam algoritmos velozes ou software de aprendizagem de máquinas. O perigo é que os traders incorrectos possam esconder as violações ou que, acidentalmente, transformem uma falha do software numa crise do mercado. E há poucos precedentes legais em que os reguladores tenham usado código de computador como evidência para processar uma má conduta por parte de operadores.

 

Para acompanhar o ritmo, agências como a Comissão de Valores Mobiliários (SEC, na sigla em inglês) e a Comissão de Negociação de Futuros de Commodities (CFTC, na sigla em inglês) talvez tenham que repensar quem contratam. Poderiam inspirar-se nos hedge funds e bancos de investimento, que têm recorrido a profissionais que sabem escrever código informático e não apenas a traders com MBA.

 

Traders fracassados

 

"Você precisa é de génios da computação que tenham fracassado no trading com algoritmo e que estejam dispostos a mudar de lado", disse Brad Bennett, que era chefe de policiamento da Autoridade Regulatória da Indústria Financeira (Finra, na sigla em inglês) até o início deste ano. "Você precisa poder desconstruir o código."

 

A Finra, que é financiada pelo sector financeiro, actua como um órgão regulador de primeira linha para corretores. Analisa montanhas de dados de trading para tentar localizar compras e vendas suspeitas, e normalmente passa o que encontra à SEC.

 

Uma preocupação particular entre os funcionários da SEC e da CFTC é que, à medida que as negociações automatizadas se tornam cada vez mais dominantes, pode aumentar a probabilidade de que os problemas do mercado se espalhem rapidamente. Uma ordem errada — ou até mesmo apenas uma ordem desproporcional — é captada por computadores que contam com inteligência artificial para ler sinais de dados. Em menos de um piscar de olhos, há um efeito em cascata nos mercados.

 

O trading automático já foi culpado por contribuir com diversos problemas, como o "flash crash" das bolsas dos EUA em Maio de 2010 e a volatilidade durante a crise da dívida soberana europeia. Ainda assim, quando os órgãos reguladores tentaram intensificar a fiscalização, encontraram uma forte oposição do sector.

 

As lutas dos órgãos reguladores com o sector evidenciam um desafio maior: agências governamentais com recursos limitados tentam manter o controlo sobre os gigantes financeiros, segundo Aitan Goelman, um ex-chefe de policiamento da CFTC. A SEC tem um orçamento anual de cerca de 1,6 mil milhões de dólares e o da CFTC é de 250 milhões de dólares.

 

"Não há dúvida de que a CFTC, em particular, está criticamente subfinanciada", disse Goelman, que agora dirige o escritório de litígios de títulos e commodities da Zuckerman Spaeder. Isso "torna muito difícil para a agência cumprir a sua missão nos vários mercados, muitos dos quais estão a mudar a uma velocidade vertiginosa".

Tradução de artigo publicado na Bloomberg a 20 de Outubro

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