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FAANG: Trump deu-lhes a mão, mas elas ficaram com o braço todo

O ano de 2019 tinha tudo para ser traiçoeiro para o grupo das “big five” e companhia. No entanto, o índice que reúne Facebook, Apple, Amazon, Netflix e Google valorizou quase 40% no ano que terminou ontem, mais do que qualquer outro nos Estados Unidos. Donald Trump deu-lhes uma ajuda.

Reuters
01 de Janeiro de 2020 às 11:00
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Guerra comercial, pressões regulatórias, multas avolumadas e concorrência asiática. O ano de 2019 podia ter servido de escorrega para as gigantes tecnológicas, mas não. A Apple valorizou quase 85%, o Facebook avançou mais de 55% e a Alphabet, dona do Google, viu as suas ações dispararem cerca de 28% durante este ano.

Donald Trump, presidente dos Estados Unidos, criou um grande clima de incerteza nos mercados, com a guerra comercial e política de tarifas que faz questão de alimentar com os seus parceiros comerciais, principalmente com a China e a União Europeia.

Mas isso ajudou os mercados. Principalmente as empresas de tecnologia, mais sensíveis às novidades das frentes comerciais, que souberam aproveitar a elevada volatilidade.

Mas recuemos. O final de 2018 trouxe uma bolsa de ar em torno de grande parte das ações, onde os investidores viram uma boa oportunidade para comprar e investir. O novo ano começou de forma positiva para as maiores tecnológicas e só no primeiro trimestre o índice que as reúne (FAANG) valorizou 18%.

Este sentimento perdurou o resto do ano, sendo que, ia bailando consoante o tom com que Donald Trump dedilhava no seu Twitter. No entanto, comparando com o ano anterior, o Facebook, a Apple, a Amazon, a Netflix e a Google – da Alphabet – não foram tão amigas dos seus acionistas e repartiram uma percentagem de lucros menor. Ainda assim, em termos de valor de mercado, este foi um ano muito positivo.

A mal-amada Apple que não vai na cantiga dos analistas
O ano começou de forma desafiante para a empresa de Tim Cook, que anunciou que ia baixar o preço de alguns iPhone fora dos Estados Unidos. Para além disso sofreu uma acusação do Spotify e Bruxelas lançou uma investigação formal sobre alegadas práticas anticoncorrenciais. Mas acabou bem: foi a cotada que mais valorizou, de entre as FAANG.

A empresa viu grande parte dos analistas dizer que 2019 seria desafiante e que as ações iam cair a pique devido, por exemplo, à concorrência chinesa, e ao atraso no desenvolvimento do 5G. As suas ações escalaram perto de 85%. 

A gigante tecnológica conseguiu sempre superar as estimativas de lucro por parte dos analistas, lançou uma nova fornada de iPhones – e vendeu mais do que esperava - e entrou no mercado de streaming com a Apple TV+.

O ano em que o Facebook não morreu

A seguir à Apple, a empresa que mais valorizou entre as FAANG, foi o Facebook, com uma subida de mais de 55% em 2019. Apesar de ser alvo de críticas, com uma redução de utilizadores jovens, que o acusam de estarem em morte lenta, ganhou força na faixa etária mais velha e soube continuar a crescer. A empresa, sozinha, duplicou o crescimento de 28% do S&P 500.  

A rede social teve, de entre todas, o ano mais desafiante em termos regulatórios. Foi escrutinado, investigado e Mark Zuckerberg foi ao Senado dos Estados Unidos tentar justificar o escândalo do roubo de dados por parte da Cambridge Analytica, que começou em 2014. Apesar de passar entre os pingos da chuva, não se livrou dos ataques constantes vindos de Governos e comissários, como Margrethe Vestager, Comissária Europeia para a Concorrência.

Nada disso foi capaz de diminuir o número de utilizadores da rede social de Mark Zuckerberg que cresceu 9%, em termos homólogos, até setembro deste ano. Ao todo, a família Facebook tem agora 2,2 mil milhões repartidos entre Facebook, Instagram, Whatsapp e Messenger.

 

A mãe da Google e os seus problemas com a Europa

A dona da Google teve, a par do Facebook, um ano desafiante do ponto de vista regulatório. E a maior parte dos problemas vieram da Europa. Bruxelas multou a gigante tecnológica em 1,49 mil milhões de dólares, o que elevou a mais de 8,25 mil milhões as condenações totais à empresa. Apesar disso, as suas ações valorizaram 28% em 2019.

Outro dos problemas foi criado pela guerra comercial entre os Estados Unidos e a China. Com as elevadas tarifas e todas as restrições criadas por Washignton às tecnológicas do país, foi preciso criar um plano B. Foi isso que a Huawei fez ao procurar alternativas ao sistema Android e às aplicações da Google, como o Gmail, nos seus aparelhos. O projeto ainda está em desenvolvimento.

Antes do ano terminar a empresa foi multada pelo uso indevido de dados de crianças no Youtube (170 milhões de euros) e por França, por abuso da sua posição dominante na publicidade (150 milhões).

Em dezembro, Larry Page e Sergey Brin, co-fundadores da Google, anunciaram que vão deixar, respetivamente, os seus cargos de CEO e presidente da Alphabet, casa-mãe do motor de busca. Sundar Pichai acumulará a presidência executiva de ambas as empresas, avançou a Bloomberg citando um comunicado da Alphabet.

A guerra do "streaming" e os prémios para a Netflix

O ano de 2019 foi atribulado também para a Netflix. Viu a concorrência do serviço de "streaming" aumentar, com a entrada da Apple TV+, da HBO em muitos países europeus, ou da Disney+. Ainda assim, foi ano de lançamentos vitoriosos que lhe valeram prémios nos melhores festivais de cinema.

O filme realizado pelo mexicano Alfonso Cuáron, ainda em 2018, trouxe o primeiro Óscar para um filme feito para a plataforma (melhor filme estrangeiro, melhor fotografia e melhor diretor). Em 2020 a dose pode repetir-se com os filmes Mariage Story, Irishman e The Two Popes estão nomeados para diferentes Óscares.

Em termos de mercado, as ações da empresa subiram mais de 20% em 2019, com aumentos de lucro sucessivos e com um aumento de subscritores no terceiro trimestre.

Mercado entregou um ganho de 23% no 25.º aniversário da Amazon  

A empresa de comércio online conseguiu um ganho de 23% no ano em que completou 25 anos de existência, devido à boa prestação do seu "core business" e que, segundo os analistas, deverá continuar a crescer em 2020.

O ano foi marcado pelo divórcio entre MacKenzie Bezos e Jeff Bezos, mas não só. Desde as greves dos trabalhadores que acusam a empresa de não tomar medidas amigas do ambiente, exploração e de alianças com vários Governos, passando pelas questões levantadas por políticos sobre os salários dos trabalhadores da Amazon, até ao crescimento dos concorrentes no setor. 

O ano para as outras FAANG
As outras cotadas que fazem parte das FAANG+ tiveram uma prestação semelhante. A Nvidia subiu 74%, a Alibaba ganhou 55%, a Tesla valorizou 24% e o Twitter avançou 11%. A cair esteve apenas a Baidu, com uma perda superior a 20%. 

O ano que agora arranca pode ser novamente desafiante para as maiores tecnológicas cotadas nos Estados Unidos, com dois fatores que podem fazer mossa nos mercados: a guerra comercial com a China, que irá continuar no próximo ano, e as eleições presidenciais nos Estados Unidos - e tudo o que as envolve.

As nomeações de Bernie Sanders ou Elizabeth Warren para o lado dos Democratas poderá afetar a forma como os investidores olham para as grandes empresas de tecnologia, uma vez que ambos os candidatos têm vindo a fazer duras críticas ao setor. Ambos indicaram que uma maior regulamentação dessas cotadas será uma parte importante dos seus projetos políticos. 

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