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15% dos ativos dos bancos podem estar em risco

Os riscos de transição porque há um conjunto grande de empresas que, se não se adaptarem, vão deixar de ser viáveis e portanto o crédito que banca tem a essas empresas vai-se tornar irrecuperável.

24 de Setembro de 2020 às 17:00
O CEO do Millennium BCP, Miguel Maya, considera que a sustentabilidade não é um tema de marketing mas de modelo de negócio. DR
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"O que está em causa não é o nosso modo de vida, é a nossa existência", referiu Miguel Maya, presidente da comissão executiva do Millennium BCP, que enfatizou o sentido de urgência que todos os atores têm de ter perante a dimensão deste desafio. "Não temos tempo para fazer esta adaptação de uma forma progressiva, terá de ser feita queimando etapas e correndo todos os riscos ou consequências das coisas que não são planeadas nem executados com tempo, porque já não temos esse tempo".

Para o gestor do BCP, "a banca tem um papel fundamental, é a energia da economia, uma energia sustentável, e tem responsabilidades acrescidas porque faz a alocação de recursos". Acrescenta que se "se o sistema financeiro não estiver preparado para fazer uma boa triagem dos projetos e alocar o capital, que será sempre um bem escasso apesar dos milhões anunciados. Se não tivermos um papel relevante na alocação desses recursos dificilmente se consegue esta transição".

Atenção dos reguladores

Na banca, os reguladores estão particular mente sensíveis em relação à sustentabilidade. Ainda recentemente Christine Lagarde, presidente do BCE, fez um discurso com orientações concretas, "mas num modo de reflexão, dando espaço para que seja o mercado a responder. Acho que não vai ser suficiente. Terá de haver incentivos e penalizações mais do que deixar o espaço aos agentes para se adaptarem, porque temos um período muito curto de tempo, temos de provocar a mudança e acelerar a mudança este processo", diz Miguel Maya.

A banca é a energia da economia, uma energia sustentável, e tem responsabilidades acrescidas. Miguel Maya
CEO do Millennium BCP
Na perspetiva do setor financeiro a sustentabilidade toca em dois tipos de riscos. Por um lado, os riscos físicos, "como a pandemia que é uma consequência da forma como lidamos com a biosfera e com esta temática mas também o aumento do nível das águas do mar, que têm consequências físicas no balanço dos bancos e da economia porque tem impacto na atividade das empresas e nos ativos que os próprios bancos têm no balanço. Por exemplo, se tivermos crédito à habitação em zonas que vão ser comidas pelo mar é um problema".

O outro risco relaciona-se com os riscos de transição, porque há um conjunto grande de empresas que, se não se adaptarem, vão deixar de ser viáveis e portanto o crédito que banca tem a essas empresas vai-se tornar irrecuperável. "Há um montante muito elevado do balanço dos bancos, claramente acima dos 15%, que está em risco, e não é no futuro, é já, se não tivermos a sensibilidade e modelos claros para tratar estes temas", sublinha Miguel Maya.

A sustentabilidade não é "um tema de marketing, é de modelo de negócio, é uma questão séria de sobrevivência das empresas". Sem ambiente não é possível exercer a atividade económica, mas como alerta Miguel Maya mas sem cuidar do social, "colocamos em causa o modelo das democracias liberais e da economia de mercado".

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