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Sustentabilidade é a palavra da década

Hoje o mundo vive não uma situação de emergência climática mas também com a natureza em colapso e as desigualdades sociais que abrem porta a tensões e populismos.

24 de Setembro de 2020 às 16:00
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"Não tenho dúvidas que a sustentabilidade vai ser a palavra da década como do século", afirmou João Wengorovius Meneses, secretário-geral da BCSD. "Vivemos um mundo complexo, enfrentamos uma emergência climática e não apenas de alterações climáticas".

Em maio de 2020 bateu-se um novo recorde de emissão de gases com efeito de estufa para atmosfera de 3 milhões de anos com 417,1 ppmv (partes por milhão de habitantes) de CO2 na atmosfera, apesar da queda de 17% nas emissões durante o confinamento.

Entre 1988, quando foi criado o Painel Intergovernamental para as Alterações Climáticas, e 2020, emitimos mais gigatoneladas de carbono para a atmosfera do que durante o longo período que vai de 1750, início da revolução industrial, até 1988.

Por sua vez na União Europeia conseguiu-se entre 1990 e 2018 que as emissões baixassem 23%, embora no resto do mundo elas tenham aumentado, enquanto o PIB cresceu 61%, apesar da crise de 2008-11. "A UE abraçou metas unilaterais de reduções de emissões. É possível separar a emissão de gases com efeito de estufa e o crescimento económico" sublinhou João Wengorovius Meneses.

Colapso da natureza

Deu a ideia de magnitude do problema atual. "Temos de ser capaz de reduzir as emissões de carbono em 55%, a nível mundial, até 2030 face a 1990, para que o aumento da temperatura global seja inferior a 2ºC e que são as metas do Acordo de Paris. Isto implica que se diminuam 7,5% todos os anos até 2030, e que implica uma mudança radical nos modos de vida e nos modelos de negócio das empresas e de desenvolvimento económico. A mudança não pode ser apenas incremental mas tem de ser disruptiva", afirmou João Wengorovius Meneses.

Mas a sustentabilidade não se esgota na emergência climática porque a natureza que está em colapso. Em 2019 foram consumidos, a nível mundial, 100 mil milhões de recursos naturais, maioria dos quais não renováveis, como os minérios ou os combustíveis fósseis, ou com ciclos longos de renovação.

Cerca de 50% do PIB mundial depende diretamente de recursos naturais. "O capital natural está nas coisas mais simples do quotidiano como as materiais de construção das nossas casas, nos carros, nos telemóveis, nos fármacos, na alimentação, no vestuário que ou são de fibras naturais como o algodão ou sintéticas produzidas a partir de combustíveis fósseis", considerou João Wengorovius Meneses.

Desigualdades

Em 2020, Portugal atingiu o ser overshoot day a 25 de maio, "dia a partir do qual passou a viver a crédito das gerações futuras, dia a partir do qual não há mais recursos naturais para acomodar os estilos de vida e os modelos de desenvolvimento". A nível mundial, desde a década de 1970 que se atinge o overshoot antes de 31 de dezembro. "Desde essa altura que o mundo é insustentável e precisamos de mais de um planeta Terra para acomodar o nosso modo de vida. É um stock e a sua utilização é à custa das gerações futuras e da sua liberdade de escolha", diz João Wengorovius Meneses.

O outro ângulo da sustentabilidade está nas tensões e das desigualdades sociais que nos entram pela casa dentro no dia-a-dia nas suas múltiplas e geografias. É insustentável que metade da população mundial, cerca de 4 mil milhões de pessoas, tenham a mesma riqueza que os 26 mais ricos do Mundo. Portanto vamos ser sempre surpreendidos por manifestações e disrupções de caráter social, de mal-estar, que vai ser crescente se estas desigualdades se mantiverem, que podem colocar em causa as democracias liberais e alimentar ambiguidades e populismos.

O efeito sustentável em Bezos A Harvard Business Review publica todos os anos ranking dos The Most Promissing CEO e desde 2014 que Jeff Bezos era o número 1 da lista com base em indicadores de análise da capacidade dos CEO entenderem o futuro, conseguem aproveitar as oportunidades e identificar os riscos, "no fundo manter a sua empresa competitiva, aquele que será capaz de manter a sua empresa mais competitiva, aquele que vê mais à frente", conta João Wengorovius Meneses.
Em 2019 a Harvard Review Business fez uma parceria com a Sustainalytics, que é uma agência que trabalha na sustentabilidade, e introduziram critérios ESG, de sustentabilidade, ambientais, sociais e de governo, na análise dos CEO. "Não o fizeram por razões éticas, mas porque um CEO que não esteja a ver as duas grandes transformações do século, a digital e a da sustentabilidade, não está a ver o futuro. O digital já lá estava, não estava a sustentabilidade".
Com estes novos critérios ESG criou-se "uma vítima: o CEO da Amazon, Jeff Bezos", como escreveu a Harvard Business Review. "Com base apenas no desempenho financeiro, Bezos foi o principal CEO desde 2014. No entanto, ele não conseguiu fazer parte da lista deste ano devido às pontuações ESG elativamente baixas da Amazon".
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