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Um terço das espécies de mamíferos de Portugal Continental está ameaçado

Novo Livro Vermelho dos Mamíferos de Portugal Continental atualiza dados 18 anos depois da última avaliação. Atividades humanas e alterações climáticas são os principais fatores de ameaça à fauna nacional.

20 de Abril de 2023 às 09:12
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Cerca de 33% das espécies de mamíferos terrestres e marinhos da fauna de Portugal Continental avaliadas estão ameaçadas, ou seja, 27 das 82 espécies estudadas, revela o novo Livro Vermelho dos Mamíferos de Portugal Continental, que atualiza dados que datavam de 2005.

O Livro Vermelho dos Mamíferos reúne e consolida toda a informação disponível sobre este grupo de animais e o seu estatuto de ameaça. Além dos objetivos científicos, o Livro visa também contribuir para a divulgação da fauna de mamíferos e dos seus problemas de conservação em Portugal.

"A informação compilada torna este livro uma ferramenta importantíssima para o trabalho futuro de agências governamentais, instituições académicas, associações de defesa do ambiente, empresas de natureza diversa, estudantes e cidadãos interessados no património natural. Será um livro de consulta obrigatória para, por exemplo, elaborar planos de ordenamento e gestão de áreas protegidas, planear projetos de investigação sobre mamíferos, estabelecer medidas agroambientais, avaliar impactos ambientais, programar projetos de conservação de ecossistemas e espécies ameaçados, bem como apoiar decisores públicos em processos de tomada de decisão", sublinha João Cabral, investigador na Universidade de Trás-os-Montes e coeditor do livro.

A obra foi concretizada com a colaboração de uma equipa composta por especialistas em mamíferos, atribuindo à maioria das espécies uma categoria com base no risco de extinção e segundo os critérios indicados pela União Internacional para a Conservação da Natureza (UICN), nomeadamente extinto, extinto na natureza, regionalmente extinto, criticamente em perigo, em perigo, vulnerável, quase ameaçado, pouco preocupante, informação insuficiente, não avaliado.

Volvidos 18 anos deste a última edição, o livro vermelho apresenta 14 novas espécies descritas neste território, o que perfaz um total de 108 espécies referenciadas. Porém, "em geral, verifica-se um agravamento na percentagem de espécies com estatuto de ameaça nas categorias Criticamente em Perigo, Em Perigo, Vulnerável, Quase Ameaçado entre a última avaliação, em 2005, e a presente avaliação (22,8% vs. 29,7%), o que pode resultar de um maior conhecimento sobre a biologia e ecologia das diferentes espécies, mas também de uma efetiva degradação da qualidade ambiental dos habitats adequados para a manutenção de populações estáveis", alerta o investigador.

Segundo o livro vermelho dos mamíferos, os principais fatores de ameaça estão relacionados com a degradação, destruição e fragmentação dos habitats naturais, devido às atividades humanas.

As alterações climáticas são também um fator de ameaça à sobrevivência e manutenção de populações estáveis da maioria das espécies analisadas. Foi também apontada como causa direta ou indireta de redução populacional, no caso fundamentalmente dos morcegos, roedores e insectívoros, a aplicação de pesticidas ou outros agrotóxicos.

A contaminação dos cursos de água por elementos orgânicos ou inorgânicos é também preocupante para a sustentabilidade das espécies associadas aos meios aquáticos, refere o livro.

As medidas de conservação sugeridas pelo livro vermelho passam pela recuperação dos habitats, criação de mosaicos de habitats naturais ou semi-naturais, reabilitação das áreas florestais autóctones, controlo e prevenção dos fogos florestais e adoção de práticas e sistemas de produção mais sustentáveis.

Para as espécies associadas aos meios aquáticos preconiza-se o controlo das ações com influência direta na alteração e poluição dos cursos de água.

Para os morcegos cavernícolas, em particular, os investigadores consideram que é fundamental a proteção legal e física dos abrigos, por exemplo, encerrando a entrada das cavidades subterrâneas usadas como abrigos com vedações adequadas que dificultem o acesso de pessoas, mas permitam a circulação dos morcegos.

O projeto foi levado a cabo FCiências.ID da Faculdade de Ciências da Universidade de Lisboa em parceria com o Instituto da Conservação da Natureza e das Florestas (ICNF) e financiado pelo Fundo Ambiental.

 

 

 

 

 

 

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