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A modificação da radiação solar (MRS), um conjunto de técnicas que procuram alterar a quantidade de radiação solar que atinge a Terra, com o objetivo de mitigar os efeitos das alterações climáticas, ainda não está suficientemente madura para ser aplicada, conclui um painel de investigadores convocado pelo Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (PNUMA).
Segundo o estudo "Uma Atmosfera: Uma Análise de Peritos Independentes sobre Investigação e Implementação da Modificação da Radiação Solar", é necessária mais investigação sobre os riscos e benefícios destas tecnologias antes de qualquer consideração para uma potencial implantação.
A modificação da radiação solar inclui técnicas como gestão de nuvens, branqueamento de telhados e pavimentos urbanos, criação de superfícies refletoras ou colocação de espelhos ou partículas na órbita terrestre, de forma a refletir para o espaço a luz que chega à Terra.
Algumas dessas técnicas, como a gestão de nuvens e a colocação de partículas na órbita terrestre, são controversas devido aos seus possíveis efeitos colaterais e à sua capacidade limitada de reduzir as concentrações de gases de efeito estufa na atmosfera.
O painel conclui que a MRS ainda não está pronta para ser implantada em grande escala para arrefecer a Terra, não sendo, portanto, uma solução para uma rápida redução das emissões de gases com efeito de estufa. "As alterações climáticas estão a levar o mundo para terrenos desconhecidos, com a procura de todas as soluções viáveis", refere Andrea Hinwood, cientista-chefe do PNUMA. "No entanto, todas as novas tecnologias devem ser claramente compreendidas e identificados os potenciais riscos ou impactos antes de serem postos em prática", acrescenta.
Medidas temporárias de emergência como as tecnologias de MRS estão a ser levantadas no discurso científico e público, dado que os esforços globais para reduzir as emissões de gases com efeito de estufa não estão no bom caminho para cumprir o objetivo de limitar o aquecimento a 1,5°C, segundo o Acordo de Paris.
Estas tecnologias visam arrefecer rapidamente a Terra, refletindo uma pequena percentagem da luz solar de volta para o espaço. Enquanto algumas tecnologias, como a injeção de aerossóis estratosféricos, estão mais maduras e as experiências ao ar livre estão a ser ativamente prosseguidas, a revisão encontra questões críticas não resolvidas no geral, refere o PNUMA. "O setor privado e os reguladores precisam de lidar com as incertezas destas tecnologias, responder a algumas questões fundamentais sobre segurança e empregar o princípio da precaução antes mesmo de poderem ser contempladas", referiu o cientista.
Para além das incertezas sobre os impactos sociais e ambientais das tecnologias de MRS, estas também não abordam as causas das alterações climáticas, pelo que não vão corrigir ou alterar os impactos que já estamos a sofrer, conclui o painel.
A modificação da radiação solar não é, portanto, uma solução definitiva para combater as alterações climáticas e não deve substituir a redução das emissões de gases de efeito estufa. "Não há atalhos ou substitutos para cortar as emissões nocivas e não há melhor alternativa para a nossa paz, saúde e bem-estar do que a mudança para uma economia circular, em harmonia com a natureza", conclui Andrea Hinwood.