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Com o aquecimento global a aproximar-se dos 1,5°C, é provável que se desencadeiem pelo menos cinco pontos de rutura do sistema terrestre, incluindo o colapso de grandes camadas de gelo e a mortalidade generalizada dos recifes de coral de águas quentes, alerta o Relatório Global sobre os Pontos de Rutura, divulgado nesta quarta-feira.
O relatório faz uma avaliação, revista por pares, das ameaças e oportunidades de pontos de viragem negativos e positivos no sistema terrestre e na sociedade e é considerada a avaliação mais exaustiva dos pontos de rutura jamais realizada.
Com base numa avaliação de 26 pontos de viragem negativos do sistema terrestre, os cientistas apresentam pontos de viragem, com base em provas de registos paleoclimáticos, observações, teoria e modelos computacionais complexos.
Nomeadamente, na criosfera, existem provas de pontos de viragem em grande escala nos mantos de gelo da Gronelândia e da Antártida, e de viragens localizadas nos glaciares e no permafrost.
Na biosfera, os pontos de rutura estão presentes numa série de ecossistemas, incluindo a extinção da floresta amazónica, a degradação das savanas e das terras secas, a eutrofização dos lagos, a extinção dos recifes de coral e dos mangais e o colapso de algumas pescarias.
No que respeita às circulações oceano-atmosfera, há indícios de pontos de viragem no revolvimento dos oceanos Atlântico e Austral, bem como na monção da África Ocidental, explicam os investigadores.
Lançado na altura em que decorrem as negociações mundiais na conferência do clima, no Dubai, o relatório afirma que a humanidade se encontra atualmente numa trajetória desastrosa.
"Cinco grandes pontos de rutura já estão em risco de ser ultrapassados devido ao aquecimento atual e outros três estão ameaçados na década de 2030, à medida que o mundo ultrapassa os 1,5°C de aquecimento global", conclui o relatório elaborado por uma equipa internacional de mais de 200 investigadores, coordenada pela Universidade de Exeter, Reino Unido, em parceria com o Bezos Earth Fund.
"Os pontos de viragem no sistema terrestre representam ameaças de uma magnitude nunca enfrentada pela humanidade", afirma Tim Lenton, autor principal e presidente do departamento de Alterações Climáticas e Ciência do Sistema Terrestre no Instituto de Sistemas Globais da Universidade de Exeter. "Podem desencadear efeitos de dominó devastadores, incluindo a perda de ecossistemas inteiros e da capacidade de produção de culturas de base, com impactos sociais que incluem deslocações em massa, instabilidade política e colapso financeiro", acrescenta.
O relatório conclui que a manutenção do status quo já não é possível - com mudanças rápidas na natureza e nas sociedades já em curso e outras a caminho. À medida que os pontos de rutura do sistema terrestre se multiplicam, existe o risco de uma perda catastrófica, à escala global, da capacidade de produção de culturas de base. Sem uma ação urgente para travar a crise climática e ecológica, as sociedades serão esmagadas à medida que o mundo natural se desmorona.
Ação global de emergência
Em alternativa, uma ação global de emergência - acelerada pelos líderes reunidos na COP28 - pode aproveitar os pontos de inflexão positivos e conduzir-nos a um futuro próspero e sustentável, defendem os cientistas. A velocidade da eliminação progressiva dos combustíveis fósseis e o crescimento das soluções de carbono zero determinarão agora o futuro de milhares de milhões de pessoas.
O relatório apresenta um plano para o fazer e afirma que políticas corajosas e coordenadas podem desencadear pontos de viragem positivos em vários setores, incluindo a energia, os transportes e a alimentação.
O relatório inclui seis recomendações fundamentais. Nomeadamente, eliminar gradualmente os combustíveis fósseis e as emissões provenientes do uso do solo, parando-as muito antes de 2050; reforçar a adaptação e a governação das "perdas e danos", reconhecendo a desigualdade entre e dentro das nações; incluir os pontos de viragem no Global Stocktake e nas Contribuições Nacionalmente Determinadas; coordenar os esforços políticos para despoletar pontos de viragem positivos; convocar uma cimeira mundial urgente sobre os pontos de viragem; e aprofundar o conhecimento sobre os pontos de viragem.
"Tal como acontece com os pontos de viragem do sistema terrestre, os pontos de viragem positivos podem combinar-se para se reforçarem e acelerarem mutuamente. Por exemplo, à medida que atravessamos o ponto de viragem em que os veículos elétricos se tornam a forma dominante de transporte rodoviário, a tecnologia das baterias continua a melhorar e a ficar mais barata. Isto poderia desencadear outro ponto de viragem positivo na utilização de baterias para armazenar energia renovável, reforçando outro na utilização de bombas de calor nas nossas casas, e assim por diante", explica Steve Smith, da Universidade de Exeter.