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Portugal pode vir a sofrer 10 ondas de calor por ano no final do século

Estudo realizado para o Roteiro Nacional para a Adaptação 2100 vai permitir aos decisores definir estratégias para aumentar a resiliência às alterações climáticas.

03 de Maio de 2024 às 11:25
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Portugal poderá vir a sofrer 10 ondas de calor por ano no final do século, caso se verifique o pior cenário de evolução do aquecimento global, na ordem dos 4,5Cº, estima o estudo realizado para o Roteiro Nacional para a Adaptação 2100 (RNA2100), apresentado nesta quinta-feira. Se se verificar um cenário de aquecimento global na ordem dos 2,5ºC a 3ºC – o cenário mais provável -, o país deverá ter de enfrentar seis ondas de calor por ano. No melhor dos cenários, ou seja, se o aquecimento global mantiver o limite abaixo de 1,5ºC, Portugal terá de enfrentar três ondas de calor anualmente, algo semelhante ou ligeiramente acima do que se vive nos dias de hoje.


O roteiro vem atualizar o conhecimento a nível de cenários climáticos e respetivos impactes para diferentes regiões e em setores chave. Os dados apontam ainda medidas a considerar no sentido de uma maior resiliência climática. "Desde 2006 que não se fazia esta análise aos impactes das alterações climáticas em Portugal", referiu Ana Teresa Perez, vogal do Conselho Diretivo da Agência Portuguesa do Ambiente (APA), na apresentação que decorreu na Secretaria Geral do Ambiente, em Lisboa.

O estudo, coordenado pelo investigador Pedro Matos Soares, analisou e traçou cenários de impacto das alterações climáticas em matéria de água e agrofloresta, fogos florestais e zonas costeiras.

No que toca à precipitação, o país poderá vir a ter -35% de precipitação, no pior cenário, ou -15% de precipitação, no cenário intermédio. Tal irá agravar as secas, sendo que Portugal poderá vir a sofrer cinco anos por década de seca severa no pior cenário e três a quatro anos de seca severa por década no cenário intermédio. Se se verificar o melhor cenário, ocorrerá um ano de seca severa por década.

"Mas não será só o número de ondas de calor, pois a duração das ondas aumenta exponencialmente. Em vez de termos ondas de cinco ou seis dias, poderemos ter ondas de calor com duração média de12 dias no pior cenário e de oito dias no cenário intermédio. E no final do século a máxima duração da onda de calor pode durar dois meses", explicou Pedro Matos Soares sobre o estudo "Cenários climáticos, impactes setoriais e adaptação nos recursos hídricos, incêndios e zonas costeiras", salientando, no entanto, que "o futuro depende das emissões globais".

O estudo prevê perdas no volume armazenado de recursos hídricos em todo o território. Na barragem do Alqueva, por exemplo, no pior cenário, o volume armazenado poderá cair um terço.

Face a estas condicionantes climatéricas, os investigadores estimaram também alguns custos económicos pela perda de algumas culturas, entre as quais milho, batata e laranja. No pior cenário, o país pode perder por ano 660 milhões de euros; no cenário intermédio pode perder 400 milhões de euros; e no melhor cenário pode perder 200 milhões de euros por ano.

Para combater estes cenários, o estudo aponta algumas medidas a tomar, tais como, substituir a cultura de milho por girassol, que carece de menos água; reduzir perdas de água nas redes; aumentar a eficiência da rega; ou aproveitar as águas residuais.

No que toca aos incêndios, estes tenderão a duplicar ou triplicar o tempo médio atual de 15 dias por ano. "Só limitando as ignições poderemos responder aos perigos dos incêndios", salientou Matos Soares. Neste sentido, o investigador salienta a importância da sensibilização da população e de medidas coercivas para reduzir entre 25% a 50% o número de incêndios no país e respetivos custos, que se estimam vir a ser de 163 milhões de euros por ano no final do século.

Quanto às zonas costeiras, o estudo apurou que os distritos de Faro, Setúbal e Aveiro são os que apresentam maiores vulnerabilidades. Cerca de 20 mil edifícios e mais de 52 mil residentes estarão em risco. Em caso de inação, poderá haver um impacto de 12 mil milhões de euros.

O projeto RNA2100, cofinanciado pelos EEA Grants, foi promovido pela Agência Portuguesa do Ambiente e contou com o envolvimento da Faculdade de Ciências da Universidade de Lisboa, da Direção-Geral do Território, do Instituto Português do Mar e da Atmosfera, do Banco de Portugal e da Direção Norueguesa de Proteção Civil.

 

 

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