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O degelo no Ártico pode abrir novas portas para a instalação de cabos de Internet submarinos que transportam a maior parte do tráfego internacional de dados, desviando-os das localizações atuais onde estão mais expostos a possíveis ataques.
Tendo em conta que cabos de gás e de telecomunicações do Mar Báltico foram danificados no ano passado, sendo um navio chinês um potencial suspeito, está a ser equacionado um novo cabo submarino de 14 500 km no Ártico para redirecionar o tráfego de dados para longe de pontos vulneráveis a ataques, dá conta o jornal Político.
Os cabos de dados do Mar Vermelho também foram cortados no mês passado após um aviso do governo iemenita de ataques dos rebeldes Houthi apoiados pelo Irão. Mais de 90% de todo o tráfego Europa-Ásia passa por cabos que atravessam este corredor comercial, onde a violência se intensificou desde outubro.
Segundo o jornal, o projeto Far North Fiber procura oferecer uma rota mais segura, contornando pontos de estrangulamento críticos como o Mar Vermelho. O cabo de 14 500 quilómetros de comprimento ligará diretamente a Europa ao Japão, através da Passagem do Noroeste no Ártico, com pontos de aterragem no Japão, Estados Unidos (Alasca), Canadá, Noruega, Finlândia e Irlanda.
"Para satisfazer a procura crescente, há uma pressão cada vez maior para encontrar diversidade", afirmou Taneli Vuorinen, vice-presidente executivo da Cinia, uma empresa finlandesa que está a trabalhar no cabo pan-ártico inovador, ao Político.
Anteriormente, a espessa camada de gelo do Ártico tornava impossível a navegação e instalação de cabos. Mas o Ártico está a aquecer a um ritmo preocupante devido às alterações climáticas, com o gelo marinho a diminuir quase 13% em cada década.
Ik Icard, diretor de estratégia da Far North Digital, outra empresa que trabalha no projeto, afirmou que o degelo do verão permite agora que os navios instalem o cabo, enquanto o congelamento do inverno limita as perturbações. "Estamos no ponto ideal em que é acessível e nos permite uma janela de tempo para instalar em segurança", ao mesmo tempo que "desfrutamos da proteção dessa cobertura de gelo durante uma parte significativa do ano contra ameaças humanas, desde quedas de âncoras a tentativas de sabotagem", explicou.
A União Europeia aprova o projeto, tendo investido cerca de 23 milhões de euros ao abrigo do MIE Digital, o principal instrumento financeiro de apoio à conetividade em todo o bloco. A Comissão Europeia apelou recentemente aos governos da UE para protegerem melhor as suas redes submarinas e pretende que os novos projetos de cabos preencham as lacunas estratégicas.