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COP28 acolhe número recorde de lobistas dos combustíveis fósseis

Os lobistas superam em número os delegados dos 10 países mais vulneráveis ao clima, segundo as contas apuradas por uma coligação internacional de ativistas climáticos.

05 de Dezembro de 2023 às 15:25
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Pelo menos 2456 lobistas de combustíveis fósseis inscreveram-se na COP28, a Conferência das Nações Unidas sobre Alterações Climáticas que está a decorrer no Dubai, assinalando uma presença "sem precedentes" de representantes de alguns dos maiores poluidores do mundo nas negociações sobre o clima. Os lobistas superaram em número os 1609 delegados dos 10 países mais vulneráveis ao clima.

Os números são avançados pela Kick Big Polluters Out (KBPO), uma coligação internacional de 60 organizações ativistas do clima, que analisou os dados de inscrição na edição deste ano, revelando ainda que o número de presenças de lobistas é quase quatro vezes superior ao do ano passado.

"Porque é que os progressos na luta contra a crise climática são escassos? Todos nós já sabemos a resposta: porque a influência dos grandes poluidores continua a ser visível e até cresce nalguns locais, como a Conferência das Partes. Tornou-se cada vez mais visível graças aos novos requisitos de transparência da COP 28 e aos corajosos denunciantes que correm riscos para denunciar conflitos de interesses inaceitáveis. Está na altura de criar um quadro adequado de responsabilização pelo clima", salienta Brice Böhmer, responsável pelo Clima e Ambiente na Transparência Internacional.

O número de lobistas dos combustíveis fósseis com acesso à COP28 é significativamente superior ao de quase todas as delegações nacionais, sendo só são ultrapassados pelas 3081 pessoas trazidas pelo Brasil (que deverá acolher a COP30) e pelos Emirados Árabes Unidos, que, enquanto anfitrião da COP28, levou 4409 pessoas, refere a KBPO.

Um grande número de lobistas dos combustíveis fósseis teve acesso à COP28 como parte de uma associação comercial. Nove dos 10 maiores grupos de pressão são oriundos do Norte Global. O maior foi a Associação Internacional de Comércio de Emissões (IETA), com sede em Genebra, que trouxe 116 pessoas, incluindo representantes da Shell, TotalEnergies e Equinor da Noruega, refere a KBPO.

Segundo esta coligação de ativistas, França levou à cimeira do clima gigantes dos combustíveis fósseis como a TotalEnergies e a EDF como parte da sua delegação nacional. Itália levou consigo uma equipa de representantes da ENI e a delegação da União Europeia incluiu funcionários da BP, ENI e ExxonMobil.

"É evidente que esta COP não está aqui para tomar verdadeiras medidas para enfrentar a crise climática. Isto é evidente na forma como a UNFCCC permite quase oito vezes mais distintivos aos lobistas dos combustíveis fósseis do que aos delegados indígenas do Fórum Internacional dos Povos Indígenas sobre Alterações Climáticas. O único investimento aqui é em falsas soluções, como mecanismos de mercado e comércio que dependem de um aumento contínuo das emissões", refere Brenna Two Bears, coordenadora da Rede Ambiental Indígena.

 

 

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