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Negociações na COP28 ameaçadas por falta de consenso

No dia em que deveria terminar a Conferência do Clima, várias partes, entre as quais a União Europeia e os EUA, não aceitam os termos do projeto de acordo apresentado. UE ameaça mesmo abandonar o processo.

12 de Dezembro de 2023 às 10:24
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União Europeia, EUA, Austrália e países insulares entre as partes da Conferência do Clima que não concordam com o projeto de acordo sobre combustíveis fósseis apresentando no final desta segunda-feira e que consideram "fraco".

O projeto eliminou a linguagem incluída num texto anterior que sugeria que os combustíveis fósseis poderiam ser "eliminados gradualmente". Em vez disso, os países devem "reduzir o consumo e a produção de combustíveis fósseis de uma forma justa, ordenada e equitativa". Desta forma, fica subjacente a possibilidade de os países continuarem a usar combustíveis fósseis sem qualquer prazo de eliminação.

Um representante da União Europeia classificou o projeto de "inaceitável" e disse que o bloco poderia abandonar o processo, noticiou a BBC nesta terça-feira, dia em que deveria terminar a 28ª Conferência das Nações Unidas sobre Alterações Climáticas no Dubai. Recorde-se que o Conselho Europeu pediu previamente à COP28 "mais ambição" em linha com os objetivos de neutralidade carbónica em 2050.

Porém, todos os 198 países presentes na cimeira têm de concordar ou não haverá acordo. Espera-se que seja publicada uma nova versão alterada do texto no dia de hoje, para que as negociações possam prosseguir. Negociações estas que deverão continuar por mais dois dias, mas sem data de finalização ainda confirmada.

"Não podemos aceitar o texto", disse Eamon Ryan, negociador da UE e ministro do Ambiente da Irlanda, à BBC, acrescentando que o fracasso das negociações "não é o resultado que o mundo precisa".

Também o enviado dos Estados Unidos para o clima, John Kerry, reagiu ao rascunho do primeiro Balanço Global (Global Stocktake) pós Acordo de Paris, referindo que a COP28 é a "última oportunidade" que o mundo tem para cumprir seu objetivo de limitar o aumento da temperatura média de 1,5ºC.

O Reino Unido considerou o projeto "dececionante" e afirmou que "não vai suficientemente longe". É necessário eliminar gradualmente os combustíveis fósseis para atingir os nossos objetivos climáticos", afirmou o porta-voz do Reino Unido, à estação britânica.

O Grupo dos Países Menos Avançados (PMA) afirmou que não podia aceitar o texto, tendo o seu presidente perguntado "Onde está a ambição?"

Em Portugal, a associação ZERO reagiu ao documento, dizendo-se "extremamente desiludida com o curso das negociações".

"O documento não respeita a ciência e não cumpre com os objetivos do Acordo de Paris relativamente a limitar o aquecimento a 1,5ºC. A secção de eliminação progressiva dos combustíveis fósseis nada mais é do que um menu que os países podem escolher, incluindo opções caras e duvidosas, em vez de um pacote energético que apela aos governos para abordarem de forma significativa a urgência da crise climática através de uma abordagem rápida, justa, financiada e equitativa", refere a ZERO, que tem uma delegação a acompanhar as negociações na COP28.

A associação ambientalista critica ainda que "há um forte foco em tecnologias de redução duvidosas, como a captura e sequestro de carbono ou dispendiosas como a energia nuclear", em vez de ser na eliminação dos combustíveis fósseis.

Recorde-se que esta cimeira, para além de ter como presidente Al Jaber, CEO da petrolífera estatal do Dubai, também acolhe um número "sem precedentes" de lobistas de combustíveis fósseis. Pelo menos 2456 inscreveram-se na COP28, representando alguns dos maiores poluidores do mundo nas negociações sobre o clima. Os lobistas superaram em número os 1609 delegados dos 10 países mais vulneráveis ao clima.

Entretanto, já foi anunciada a que a COP29 irá decorrer em Baku, no Azerbaijão, sendo que a COP30 acontecerá em Belém, no Brasil.

 

 

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