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Anfitrião da COP28 pretende aumentar produção petrolífera em 42%

Projeções mostram que os Emirados Árabes Unidos, atualmente em 12º lugar, serão o segundo produtor de petróleo até 2050.

04 de Dezembro de 2023 às 10:24
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Os Emirados Árabes Unidos (EAU) pretendem aumentar a produção petrolífera em 42% até 2030, revela a BBC, na altura em que o Dubai recebe a conferência mundial do clima para debater a redução do uso de combustíveis fósseis a nível global.

A informação sobre a Adnoc, a empresa petrolífera estatal dos EAU, provém da Rystad Energy, cuja informação sobre o mercado petrolífero é amplamente utilizada pelas empresas de combustíveis fósseis e por organismos internacionais como a Agência Internacional de Energia, explica a BBC.

Entre 2023 e 2050, apenas a Arábia Saudita deverá produzir mais segundo estas estimativas. Porém, a Adnoc afirma que as projeções mostram a capacidade de produção de petróleo e não a produção efetiva e também que já tinha planos claros para aumentar a sua capacidade de produção em 7% nos próximos quatro anos.

A empresa afirma também que será necessário algum petróleo e gás nas próximas décadas e que está a tornar as suas atividades mais amigas do clima, nomeadamente através da expansão para as energias renováveis.

A Rystad utiliza relatórios de empresas, fontes governamentais e investigação académica para fazer projeções da produção futura de petróleo e gás. A organização de ativistas Global Witness utilizou estes dados para elaborar uma lista dos principais produtores de petróleo até 2050, explica a BBC.

Os EAU ficaram em segundo lugar, atrás da Arábia Saudita, ocupando atualmente o 12º lugar no ranking mundial. Segundo a Rystad, o aumento de 42% da produção nesta década aumentará a produção de pouco mais de mil milhões de barris em 2023 para quase 1,5 mil milhões de barris em 2030. Os dados sugerem que esta expansão agressiva deverá continuar durante a década de 2030, com a produção a começar a diminuir na década de 2040. Prevê-se que a produção diminua em todo o mundo até meados do século.

À BBC, Bill Hare, cientista sénior da Climate Analytics, afirmou que o crescimento "espantoso" da produção projetada da Adnoc "é completamente contrário a tudo o que sabemos que é necessário fazer para limitar o aquecimento a 1,5ºC". "É contra o compromisso do próprio presidente da COP de fazer do 1,5ºC a estrela polar das negociações sobre o clima", acrescentou. "Esta quantidade de petróleo e de gás iria destruir as hipóteses de limitar o aquecimento a 1,5ºC", declarou à estação britânica.


De acordo com a análise, as emissões do aumento da produção da Adnoc até 2050 serão superiores a 14 mil milhões de toneladas de CO2, o que, segundo os especialistas, representa mais de 6% do orçamento total da Terra para manter as temperaturas abaixo de 1,5ºC.

Fatih Birol, diretor da Agência Internacional da Energia (AIE), afirmou que a expansão da Adnoc não é compatível com a manutenção das temperaturas globais abaixo dos limiares perigosos. "Não é possível a nenhuma empresa de combustíveis fósseis dizer 'vou aumentar a minha produção em x milhões de barris de petróleo e, ao mesmo tempo, a estratégia da minha empresa está em conformidade com o acordo climático de Paris'", afirmou. "As duas coisas ao mesmo tempo não funcionam", disse à BBC News.

A Adnoc afirmou que a análise não fazia qualquer distinção entre a capacidade de produção e a produção efetiva, tendo em conta que, muitas vezes, as empresas têm capacidade para produzir mais petróleo, mas devido ao excesso de oferta no mercado ou às restrições impostas pela OPEP podem não produzir toda essa capacidade.

"Afirmámos claramente que estamos a aumentar a nossa capacidade de produção de cerca de 4,65 milhões de barris por dia para cinco milhões de barris por dia até 2027. Isto representa um aumento de 7% na capacidade de produção", afirmou um porta-voz da Adnoc. "É importante notar que se trata de capacidade e não necessariamente de produção. Também não reflete a quota de produção da Adnoc".

"Todos os cenários de transição energética, incluindo os da AIE e da Rystad, reconhecem que será necessário algum nível de petróleo e gás para satisfazer a futura procura de energia", acrescentou a Adnoc à BBC.

Recorde-se que a presidência da COP28 ter sido atribuída ao sultão Al Jaber, CEO da Adnoc, tem estado envolta em polémicas. Na última semana, a BBC também revelou que os EAU planearam usar o seu papel como anfitrião das negociações climáticas da ONU como uma oportunidade para fechar acordos de petróleo e gás. Questionados pela BBC, os anfitriões não negaram o uso das reuniões da COP28 para negociações de negócios, dizendo que "reuniões privadas são privadas".

 

 

 

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