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Cada português, um “pica”

O sector vive dias decisivos para o seu futuro. Com uma dívida astronómica, calculada em perto de 18 mil milhões de euros, as empresas lidam com uma despesa de juros incompatível com a concessão das suas operações a privados, tal como está definido com a troika, que também se tem mostrado relutante em absorver esse bolo de dívida nos cofres do Estado.

O Governo já fez o diagnóstico sobre a fraude nos transportes de Lisboa. E já o entregou à troika. Para quem anda de transportes os números apurados são simples de perceber: em cada dez pessoas que os utentes vêem à sua volta, três não pagaram bilhete. O que significa, segundo as contas do Governo, que o nível de fraude custa cerca de oito milhões de euros por ano às empresas da capital portuguesa.

 

Este relatório não foi tornado público oficialmente para ser entregue directamente aos responsáveis da troika. Porquê? Não se sabe. Mas talvez pela mesma razão que o relatório semestral das contas dos transportes também só foi apresentado aos responsáveis europeus, depois de no primeiro trimestre o sector ter registado um desequilíbrio operacional que viola as metas definidas pela própria troika.

 

Terá o desequilíbrio operacional do sector agravado-se no primeiro semestre? A expectativa do Governo é que o cenário se deteriore até ao final do ano? E é só a fraude que explica este desequilíbrio? Ou o elevadíssimo nível de desemprego, a crise económica e, sobretudo, o forte aumento de preços dos bilhetes levou a uma quebra irreparável das receitas dos transportes públicos?

 

O sector vive dias decisivos para o seu futuro. Com uma dívida astronómica, calculada em perto de 18 mil milhões de euros, as empresas lidam com uma despesa de juros incompatível com a concessão das suas operações a privados, tal como  está definido com a troika, que também se tem mostrado relutante em absorver esse bolo de dívida nos cofres do Estado.

 

Para além disso, a imagem do sector está envolta mediaticamente numa "caça às bruxas" quase diária dos responsáveis pelos contratos de "swaps", subscritos em pleno período de expansão de infra-estruturas, um ruinoso processo que nenhum agente político parece interessado em discutir, nem do Governo, nem da oposição.

 

O Governo terá, seguramente, dado todas as explicações e justificações para a previsível derrapagem este ano de um objectivo alcançado no ano passado. E espera-se que não tenha sido só a fraude. Porque se foi, é absurdo, tal como caricata seria a solução: a responsabilidade cairia em cada português: vigiar os autocarros, os metros ou os comboios, assumindo-se como "picas" do interesse nacional. Uma dica: segundo o relatório, citado pelo "Público", na carreira 794 que circula entre o Terreiro do Paço e a Estação do Oriente, há momentos em que por cada dois utentes, um não está a pagar. Podemos começar por aí...

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