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Ordem para gastar

O dinheiro que as famílias portuguesas têm "parado" nos bancos em contas à ordem nunca foi tão elevado (já supera os 32 mil milhões de euros, o que representa mais de 20% do total).

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O dinheiro que as famílias portuguesas têm "parado" nos bancos em contas à ordem nunca foi tão elevado (já supera os 32 mil milhões de euros, o que representa mais de 20% do total). Nada de surpreendente pois o dinheiro que está aplicado nos depósitos a prazo nunca foi tão mal remunerado. A taxa está actualmente em redor de 1%, tal como outros produtos com nível de risco semelhante, como é o caso dos certificados de aforro.


Com os bancos a oferecerem taxas de juro cada vez mais perto de zero, as alternativas para os portugueses aplicarem as suas poupanças são cada vez mais escassas e a esmagadora maioria nem quer sequer ouvir falar de acções, fundos de investimento ou outros destinos menos seguros que os depósitos. Entre receber um juro bruto de 1% e não poder mexer no seu dinheiro durante um determinado período de tempo, muitas famílias preferem tê-lo disponível à ordem.


Os níveis de poupança dos portugueses atingiram máximos no período em que a economia portuguesa passou pela fase mais forte da recessão. Agora que a recuperação começa a ganhar forma, a queda nos níveis de poupança dos portugueses está a ser abrupta (o índice da APFIPP/Católica recuou quase 10 pontos no espaço de seis meses, para 77 pontos em Abril).


As famílias portuguesas têm mostrado que são mais formigas do que cigarras e se os seus níveis de poupança estão a recuar, a culpa não é só delas. Nunca como nesta altura foi tão difícil ser aforrador em Portugal. O dinheiro colocado em aplicações sem risco pouco ou nada rende e o Governo deu um forte contributo para esta tendência, ao retirar a atractividade aos produtos de poupança do Estado. A ministra das Finanças não se cansa de falar da almofada financeira que construiu para enfrentar o pós-troika. Mas ao cortar as taxas dos certificados (permitindo que os bancos fizessem o mesmo nos depósitos), perdeu a oportunidade para que essa almofada fosse bem mais resistente e permitisse um sono mais tranquilo a quem for o titular da pasta das Finanças.


A mensagem que o Governo passou foi de que acabou a época para poupar e agora a ordem é para gastar. A tendência até tem efeitos positivos de curto prazo, como se pode ver na evolução do PIB no primeiro trimestre, que foi impulsionado pelo consumo. Mas no longo prazo a factura pode ser pesada, sobretudo se os níveis de endividamento voltarem a aumentar. Além da descida da poupança, há outros sinais de alerta. O forte aumento do crédito ao consumo é só o mais perigoso dos sinais.

 

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