Opinião
A impopularidade de Macron e a reforma laboral
Desafiando a quebra vertiginosa de popularidade (40% de aprovação) que o coloca como o Presidente francês mais impopular nesta fase do mandato, Emmanuel Macron decidiu avançar com a reforma da legislação laboral. Que preço pagará pela sua "revolução copérnica"?
A reforma, que terá ainda de ser aprovada, gira à volta da flexibilidade e facilitação dos despedimentos, tirando peso à negociação colectiva e logo poder aos sindicatos. Mas fica aquém da proposta inicial e do que queria o patronato.
À esquerda, a medida é rotulada como um "golpe de estado social". Charlotte Girard, porta-voz do movimento França Insubmissa de Jun-Luc Mélenchon, diz que "da coxa de Júpiter saiu uma agressão que em nada contribuirá para lutar contra o desemprego".
Os patrões não disfarçam o contentamento. "Esta reforma é uma primeira etapa na construção de um direito do trabalho consonante com a realidade quotidiana das empresas", comentou o presidente do poderoso Medef, Pierre Gattaz. Mas não cantam ainda vitória: "O diabo está nos detalhes" do processo legislativo.
A legislação laboral francesa é uma vaca sagrada. Há já marchas de protesto nas ruas. Preocupado, Macron contratou um novo assessor de comunicação, Bruno Roger-Petit, até aqui jornalista televisivo. O director do departamento de estratégia do centro de sondagens Ifop, Jérôme Fourquet, deixa ao Le Figaro o seu conselho: "Macron soube criar um forte desejo de mudança durante a campanha, o que muito contribuiu para a sua vitória. Mas é preciso continuar a seguir esse roteiro e, pelo menos nos primeiros meses, dar prova dessa determinação." A reforma que França julgava impossível já está no papel. Do seu futuro dependerá o futuro político de Macron.
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