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Opinião
06 de Agosto de 2017 às 23:00

A bola é quadrada

Começou a rolar a bola, depois de um defeso novamente agitado. Como nos mostra o recente negócio estratosférico - e a roçar o obsceno - de Neymar Jr., o futebol movimenta cada vez mais milhões, num mundo globalizado de dinheiros sem sotaque, nem cor.

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Por cá, fizemos as contas. O saldo entre compras e vendas de passes de jogadores é, até agora, de uns impressionantes 190 milhões de euros. Este é o valor líquido que os três maiores clubes portugueses encaixaram nesta janela de transferências, com destaque para o Benfica e, um pouco mais abaixo, o Futebol Clube do Porto. O fenómeno não é novo e é parte intrínseca do modelo de negócio que vai mantendo os clubes à tona: comprar barato jogadores incertos mas promissores e vendê-los mais caro, já com algum estatuto nas pernas. 


O resultado disto é a constante saída de talento, que mal começa a brilhar é arrebanhado por um punhado de milhões de euros. A conjugação desta estratégia com o aumento agressivo do poder financeiro de clubes de outras ligas não pode ter outro efeito que não seja o aumento inexorável do fosso de competitividade desportiva.

Isto não seria necessariamente mau se fosse fruto de uma estratégia coerente de equilíbrio financeiro. Seria uma escolha consciente: abdica-se de equipas competitivas no curto e médio prazo, para em troca sanear as contas dos clubes e das SAD. No entanto, apesar de todos os anos os principais clubes encaixarem milhões e milhões em transferências, não vemos uma redução consistente dos passivos. Leva à simples pergunta: para onde está a ir o dinheiro?

Por outro lado, é difícil encontrar novas fontes de receita, numa liga que não centraliza os direitos televisivos e cujos principais responsáveis vivem para o jogo de hoje, sem pensar na competição de amanhã. Como se pode tornar mais atractivo um espectáculo quando os presidentes dos principais clubes só têm uma estratégia, ganhar ou destruir a credibilidade de toda a competição quando isso não acontece?

O fosso financeiro não se irá estreitar até ao momento em que cair o tabu da propriedade dos clubes, quando se tornar aceitável que um xeque árabe ou um magnata angolano fique dono de uma equipa. Não é uma escolha fácil de fazer, mas a questão irá colocar-se mais tarde ou mais cedo.

Até lá, já seria um bom começo a valorização colectiva de um desporto que apaixona milhões. E que os dirigentes percebessem que o desportivismo não é uma coisa para totós, é algo que credibiliza a indústria como um todo e a torna em algo que não temos vergonha de mostrar aos nossos filhos, os potenciais consumidores do produto futebol, no futuro.
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