Opinião
O que o tempo não apaga
Sobre Fernando Ulrich escrevi, enquanto colunista deste jornal e na circunstância da época, o texto – titulado "2007, ano Ulrich" – que se segue.
"No princípio deste ano, Jorge Jardim Gonçalves e Paulo Teixeira Pinto faziam uma entrada de leão numa assembleia do BPI. Corria a OPA e os homens-fortes do BCP queriam mostrar união e força. Ontem, Jardim Gonçalves presidiu pela última vez ao conselho superior do banco que fundou e onde, ao longo do ano, se foi barricando para afastar o sucessor por si designado – o que viria a conseguir sem brilho ou glória.
Anteontem, estes dois homens viram o alvo da operação que ambos montaram dizer ao mercado quem é o novo presidente do BCP. Fernando Ulrich (a figura do ano nesta coluna) não só venceu Golias como teve engenho para lhe lançar uma tábua de salvação – alguns dos que rejeitaram a proposta de fusão já se terão arrependido.
Ulrich fecha um annus mirabilis com o poder do bom senso, transmitindo um apoio decisivo à eleição de Carlos Santos Ferreira para a presidência do BCP. Porque se os accionistas que contam aceitam o nome proposto pelo accionista que decide, não podem querer condicionar a liberdade do eleito. Santos Ferreira tem todo o direito de escolher quem muito bem entende – sejam eles amigos do primeiro-ministro ou fãs do rato Mickey.
Foi isso que Ulrich explicou a gente que não percebe o essencial das boas práticas: para se afastar o vício público da virtude privada é preciso escolher em todo e cada momento, sobretudo quando mais se sente o aperto. E se recorre, como agora, ao paizinho do costume, o Estado."
Dez anos depois, fecha-se um capítulo e abre-se outro, mas há coisas que não mudam, como o carácter.
Fernando Ulrich fez ontem 65 anos, dia em que deixou a liderança executiva do banco para assumir o cargo de "chairman". Nestes anos de brasa fez algumas coisas de coragem. Boas, menos boas, sempre a afastar o vício público da virtude privada. Esteve no lado certo da OPA à PT, soube enfrentar o poder de Angola, denunciou a vergonha do BES, construiu uma solução para o BPI.
Nos 13 anos em que liderou o banco, teria feito, como ontem disse, "muitas coisas de modo diferente". Teria e deveria. Talvez não tivesse apostado com força na dívida pública grega. Talvez tivesse moderado a soberba com que rejeitou a milionária oferta do BCP, cuja recusa custou muito dinheiro aos accionistas do BPI.
Teria feito diferente fazendo como fez e, sobretudo, com as razões nas quais desenhou o seu processo de decisão. Porque há em Fernando Ulrich o lado rude da seriedade, a espinha firme que distingue os homens livres dos homens que fazem sempre em função de um pequenino interesse pessoal.
É esse o traço que faz de Ulrich um homem de e com futuro. Não desapontou na escolha de 2007, não vai desiludir nos anos que aí estão.
Anteontem, estes dois homens viram o alvo da operação que ambos montaram dizer ao mercado quem é o novo presidente do BCP. Fernando Ulrich (a figura do ano nesta coluna) não só venceu Golias como teve engenho para lhe lançar uma tábua de salvação – alguns dos que rejeitaram a proposta de fusão já se terão arrependido.
Foi isso que Ulrich explicou a gente que não percebe o essencial das boas práticas: para se afastar o vício público da virtude privada é preciso escolher em todo e cada momento, sobretudo quando mais se sente o aperto. E se recorre, como agora, ao paizinho do costume, o Estado."
Dez anos depois, fecha-se um capítulo e abre-se outro, mas há coisas que não mudam, como o carácter.
Fernando Ulrich fez ontem 65 anos, dia em que deixou a liderança executiva do banco para assumir o cargo de "chairman". Nestes anos de brasa fez algumas coisas de coragem. Boas, menos boas, sempre a afastar o vício público da virtude privada. Esteve no lado certo da OPA à PT, soube enfrentar o poder de Angola, denunciou a vergonha do BES, construiu uma solução para o BPI.
Nos 13 anos em que liderou o banco, teria feito, como ontem disse, "muitas coisas de modo diferente". Teria e deveria. Talvez não tivesse apostado com força na dívida pública grega. Talvez tivesse moderado a soberba com que rejeitou a milionária oferta do BCP, cuja recusa custou muito dinheiro aos accionistas do BPI.
Teria feito diferente fazendo como fez e, sobretudo, com as razões nas quais desenhou o seu processo de decisão. Porque há em Fernando Ulrich o lado rude da seriedade, a espinha firme que distingue os homens livres dos homens que fazem sempre em função de um pequenino interesse pessoal.
É esse o traço que faz de Ulrich um homem de e com futuro. Não desapontou na escolha de 2007, não vai desiludir nos anos que aí estão.
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