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Raul Vaz raulvaz@negocios.pt 12 de Setembro de 2017 às 23:00

Jerónimo e o dono da bola

Jerónimo, velha raposa, viu o filme e pôs legendas: o PCP, gordo, está disposto a entrar num próximo governo. O que é que o líder dos comunistas quer? É simples: evitar uma maioria absoluta do PS, ideia que encanita a memória de décadas trocada por um curto assomo de vingança. Se isso acontecer, ler-se-á e ficará como a entrega do ouro ao bandido.

É isso que assombra Jerónimo de Sousa e o levou – em entrevista à CMTV – a abrir o jogo. Assim, sem necessidade de tradução: "O PCP está em condições de integrar um governo que teria de ter uma política patriótica e de esquerda (…). Se o povo assim o entender, dando mais força ao PCP." Quer dizer: não votem PS, escolham quem pode condicionar os socialistas e moldar um governo de esquerda além da geringonça que existe e que já não serve os objectivos do PCP. E que, no espírito do centralismo democrático, não são repetíveis a papel químico.

Há, de facto, a possibilidade de António Costa chegar a uma maioria absoluta. Meta que está obrigada a um trabalho ao centro e só pode ser evitada nas franjas – naquilo que, a verificar-se, resultará na resignação a um mal menor. Com a direita sem liderança afirmada e alternativa definida, a tendência natural do eleitor de centro-direita será evitar uma reedição da geringonça. Eis o caldo para o menor dos males e a aceitação de um governo PS sem o espartilho e os desvarios da esquerda radical. Sendo que Costa vai dar, de forma crescente, sinais de moderação num quadro de respeito pelo modelo europeu.

Neste jogo e apesar do fosso entre objectivos, Jerónimo tem um aliado, o Presidente da República. Marcelo também não deseja uma maioria de Costa, mas, ao contrário, ambiciona a construção de um movimento reformista ao centro. O que permite ao primeiro-ministro jogar nos dois carrinhos. Até porque sabe que, muito provavelmente e independentemente do desenho a que tenha de adaptar-se, vai continuar a ser "o dono da bola". 

Azeredo Lopes já devia ter passado à peluda. Não sei se o ministro da tropa fez tropa – o que não é essencial desde que se perceba e respeite os princípios e valores de uma instituição. Também não sei se o primeiro-ministro fez tropa, mas sei que tem vida – e entende certamente que a comissão de Azeredo chegou ao fim. É uma questão de tempo e, quando assim é, quanto mais tarde pior.

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