Opinião
A raspadinha de Costa
Seria bom que Manuel Caldeira Cabral, um homem bom, sério, cuidadoso e competente, tivesse razão. Diz o ministro da Economia que o Governo "acabou com a austeridade". O ministro vive neste mundo, mas não é deste Governo.
A austeridade está aí, mitigada, exuberante num espartilho de cativações orçamentais que o povo não percebe, não quer saber e rejeita o atrevimento de quem a denuncia. Está aí e vai continuar em finas fatias com a espessura financeira necessária para que todos os compromissos sejam resolvidos.
A vontade de Caldeira Cabral – numa entrevista de sopro e orgulho ao El País – leva-nos ao erro de Pedro Passos Coelho. É um equívoco irreversível que, contestando aquilo que o povo recusa, emerge como uma teimosia tonta. Chegará o dia em que ambos, paradoxalmente, se sentirão confortáveis com o que hoje dizem. Será sempre fora de tempo.
Este tempo está na fórmula em que a necessidade cria o engenho. Será assim no próximo Orçamento e no seguinte até que as eleições façam contas e determinem decisões. Será aí que o jogo, já com o árbitro ainda mais poderoso na sua relação com o povo, terá sequência. Até lá, António Costa fará o suficiente, sem picos de exuberância, para construir uma fórmula alternativa.
Nesse objectivo há uma ilharga elementar. Não é com esta equipa que Costa pensa chegar ao jogo final. Também não será, por contingências disruptivas, que o ponto encontrará o nó – naquela que é uma preocupação essencial no exercício da "política à Costa". Habita em Costa uma aparente contradição entre uma resiliência oportuna e a paciência inoportuna – aquilo que facilmente irrita a direita e desconcerta a esquerda. O modelo, de raiz, exige, indiscutivelmente, a cabeça de um moderado.
Depois das autárquicas, algures no rescaldo do Orçamento, o primeiro-ministro tem a intenção de reforçar a componente política do Governo. Em qualidade, sentido prático, relação de confiança. Não será apenas por isso que o ministro da Economia está na primeira linha de saída.
Não é a única razão que razões conhecidas levam à avaliação de Constança Urbano de Sousa ou Azeredo Lopes. Mas é por uma relação de incondicional de confiança, aliada a uma qualidade provada e uma inteligência manifesta, que Pedro Siza Vieira, advogado e amigo pessoal do primeiro-ministro, está na linha da frente.
António Costa sabe que vai ganhar as eleições apesar da austeridade que a realidade e o (seu?) ministro das Finanças impõem, sabe que tem de encontrar cúmplices para a segunda parte do jogo (com o país a crescer e socialmente distendido, mas com uma dívida pública incontrolável). Costa adoraria poder prescindir da geringonça ou parte dela e ser a geringonça a reafirmar uma fidelidade submissa.
Eis um tabuleiro em que o Presidente do povo (que pede, e bem, explicações sobre os dinheiros de Pedrógão e questiona Tancos) tem de estar. Um jogo em que o chefe do Governo vai apostar todas as fichas. Até por saber que – por deficiência da oposição e rejeição da direita à geringonça – o centrão lhe pode oferecer a raspadinha da sorte. São contas do mesmo rosário.
A vontade de Caldeira Cabral – numa entrevista de sopro e orgulho ao El País – leva-nos ao erro de Pedro Passos Coelho. É um equívoco irreversível que, contestando aquilo que o povo recusa, emerge como uma teimosia tonta. Chegará o dia em que ambos, paradoxalmente, se sentirão confortáveis com o que hoje dizem. Será sempre fora de tempo.
Nesse objectivo há uma ilharga elementar. Não é com esta equipa que Costa pensa chegar ao jogo final. Também não será, por contingências disruptivas, que o ponto encontrará o nó – naquela que é uma preocupação essencial no exercício da "política à Costa". Habita em Costa uma aparente contradição entre uma resiliência oportuna e a paciência inoportuna – aquilo que facilmente irrita a direita e desconcerta a esquerda. O modelo, de raiz, exige, indiscutivelmente, a cabeça de um moderado.
Depois das autárquicas, algures no rescaldo do Orçamento, o primeiro-ministro tem a intenção de reforçar a componente política do Governo. Em qualidade, sentido prático, relação de confiança. Não será apenas por isso que o ministro da Economia está na primeira linha de saída.
Não é a única razão que razões conhecidas levam à avaliação de Constança Urbano de Sousa ou Azeredo Lopes. Mas é por uma relação de incondicional de confiança, aliada a uma qualidade provada e uma inteligência manifesta, que Pedro Siza Vieira, advogado e amigo pessoal do primeiro-ministro, está na linha da frente.
António Costa sabe que vai ganhar as eleições apesar da austeridade que a realidade e o (seu?) ministro das Finanças impõem, sabe que tem de encontrar cúmplices para a segunda parte do jogo (com o país a crescer e socialmente distendido, mas com uma dívida pública incontrolável). Costa adoraria poder prescindir da geringonça ou parte dela e ser a geringonça a reafirmar uma fidelidade submissa.
Eis um tabuleiro em que o Presidente do povo (que pede, e bem, explicações sobre os dinheiros de Pedrógão e questiona Tancos) tem de estar. Um jogo em que o chefe do Governo vai apostar todas as fichas. Até por saber que – por deficiência da oposição e rejeição da direita à geringonça – o centrão lhe pode oferecer a raspadinha da sorte. São contas do mesmo rosário.
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