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A primeira pedra do bloco central

Rui Rio teve a vitória possível depois de uma campanha sofrível. Mas se a margem da vitória é estreita, já o seu alcance é bem maior do que parece e pode ser o primeiro passo para um entendimento ao centro.

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Desde o início desta legislatura que o caminho do PS tem sido o mesmo: desenvolver uma popular política de recuperação de rendimentos que lhe assegura o apoio parlamentar dos partidos à sua esquerda, ao mesmo tempo que consolida as contas públicas, estabiliza o sistema financeiro e normaliza as condições de financiamento externo. Esta política tem roubado votos, não ao PCP e Bloco, que mantêm a boa votação das legislativas, mas sim ao PSD.
Na hora de votar não será diferente. Bloco e PCP têm bons argumentos para mobilizar o seu eleitorado em 2019: tiraram a direita do poder, devolveram rendimentos e direitos às famílias, sem se queimarem com os erros da governação de Costa. Os seus argumentos poderão até cativar algum do eleitorado socialista mais à esquerda, convencido que o PS governa melhor acompanhado do que sozinho.

Assim, o crescimento do PS para chegar à maioria absoluta terá de ser feito em incursões pela margem direita. E é aqui que entra Rio. A sua eleição como líder do PSD é um primeiro dique para impedir que o PS engula mais eleitorado à sua direita. Não apenas porque substitui um líder que as circunstâncias tornaram moribundo, mas porque tem uma mensagem correcta no que diz respeito a políticas de alianças.

Ao contrário do que defendeu Santana Lopes, e do que tem sido a linha de Passos Coelho, o eleitorado do PSD estará mais interessado em afastar comunistas e bloquistas do poder do que em ajustes de contas. E num cenário em que PSD e CDS não têm a maioria no Parlamento, só há uma forma de o conseguirem: viabilizando, com acordos de incidência parlamentar, um governo do PS.

A data de validade da geringonça, tal como existe, termina nas próximas eleições porque nenhuma das três forças políticas que a constituem têm interesse em repetir a graça em 2019. Mas a sua vontade não chega. Mesmo sem reeditar as famosas "posições conjuntas" de 2015, se a esquerda alcançar de novo a maioria dos assentos parlamentares não restará ao Bloco e PCP outra alternativa senão a de manter a governação socialista à tona da água, com acordos pontuais, deixando o segundo governo de Costa numa navegação à vista. Será então uma geringonça dissimulada e com pouco tempo de vida.

A menos que o PSD estenda a mão ao PS. E foi essa porta que Rio deixou entreaberta. E bem. O PSD não tem necessariamente de se aliar ao PS mas deve mostrar que está disponível para permitir que este governe ao centro, negociando condições. Há dois anos, PCP e Bloco tiveram de escolher entre juntar-se ao PS ou viabilizar um novo governo das direitas. Fizeram a escolha certa aos olhos do seu eleitorado. Daqui a dois anos, o PSD enfrentará um dilema análogo: juntar-se ao PS ou viabilizar uma nova coligação das esquerdas - assumida ou dissimulada. O seu eleitorado preferirá a primeira alternativa. E Rio percebeu isso.
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