Opinião
Três tristes figuras
O PSD está a tornar-se incompreensível. Luís Filipe Menezes persiste numa deriva auto-centrada, destruindo o passado sem construir o futuro. Tudo seria mais ou menos risível se fosse inconsequente. Não é. Está escrito nas estrelas: o PSD é o partido que s
A credibilidade dos partidos está de rastos. Não há ideologias, há demagogias. Não há projectos políticos, há disputas pelo poder. Não há estratégias sectoriais, há tácticas coladas com cuspo. Essa vacuidade faz medrar movimentos tertulianos, partiditos, compromissos empresariais e mini-compromissos geracionais, gente preocupada e bem-intencionada mas que não pode substituir o papel dos partidos políticos. E que deixa evidente que alguém ocupará o espaço que está ser a deixado vazio.
Também o PSD está a fazer terraplanagem na São Caetano à Lapa, na sede que simbolicamente até quer vender. No fim-de-semana em que o País ardia com a manifestação dos professores, os acólitos de Menezes chapinhavam no seu umbigo, discutindo regras do partido. E aprovando formas de pagamento de quotas que pertencem à pré-história das boas práticas contabilísticas. Menezes prefere ajustar contas com o passado a ter contas certas no futuro, tornou o PSD num espaço de guerrilha e empenhou-se em lançar caça às bruxas, em que a cedilha só aparece por decoro.
Isso seria um mero exercício de poder se fosse transição para alguma coisa. Mas o que se vai sabendo de Menezes é esparso e sem sustentação. Ideias soltas e que mereceriam discussão se tivessem sido discutidas. Desmantelar o Estado em seis meses, tirar a publicidade à RTP, privatizar a CGD são como bons títulos de notícias sem texto.
Portugal precisa de PSD. Mas... é isto o PSD?
2 - Que Balsemão e Polanco defendam que não há espaço para o quinto canal de televisão é um natural instinto de sobrevivência. Que os partidos chamem os donos da SIC e da TVI ao Parlamento e, ouvindo isto, não perguntem como justificam então os lucros das duas empresas já diz bem da qualidade dos grupos parlamentares que temos.
Declaração de interesses: o Jornal de Negócios pertence ao Grupo Cofina, que já assumiu estar interessado em concorrer ao quinto canal TV. Mas não é preciso fazer claque por uma coisa óbvia: concorrência. A SIC e a TVI, por mérito próprio, acabam de apresentar resultados muito positivos, com margens de 19% (na SIC) e 29% (na TVI) sobre os resultados operacionais antes de amortizações. Ou seja, por cada quatro euros facturados pelas duas estações, um euro é lucro operacional. É natural que os accionistas destas empresas achem que é pouco. Concluir que o mercado está aflito é, convenhamos, um passo longo de mais.
3 -O administrador-delegado da Abertis disse ontem que o reforço na estrutura accionista da Brisa, que levou Vasco de Mello a declarar morto o pacto de não agressão entre as duas empresas, foi “mal interpretado”.
Recorde-mo-lo: a Abertis é a empresa homóloga da Brisa em Espanha e é sua accionista há meia-dúzia de anos. Pela calada, a empresa começou a comprar mais acções da Brisa, sem sequer avisar os seus “hermanos” da família Mello, e todos “interpretámos mal” que a empresa ia finalmente fazer o que há anos se especula: tomar o controlo da Brisa.
Quem não foi mal interpretado foi Vasco de Mello, que ameaçou correr com os espanhóis da administração da Brisa. Os espanhóis voltaram com o rabo entre as pernas. Tudo acabou em bem e, pelo menos por agora, a paz voltou à Brisa. Amigos como dantes. Cinicamente como dantes.