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Superterça, superteresa

Diferente de Bush porque é ou porque convém parecer que é? Na economia, por exemplo, o candidato democrata segue o proteccionismo mais perigoso da actual Administração dos EUA.

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Conheceram-se no Rio de Janeiro, em Junho de 1992, durante a Cimeira da Terra, a Eco 92, onde ela participava como activista de uma influente ONG norteamericana, e alinhava pelos discursos inflamados contra Bush e a sua “política de direita”.

Ela chama-se Teresa, é uma cidadã portuguesa nascida em Moçambique. Ele é John Kerry, um senador democrata norte-americano, e quer ser Presidente dos Estados Unidos. Aquela ambientalista “xiita” do início da década passada, que saiu do primeiro casamento viúva e riquíssima, até podia pensar em casar-se de novo.

Dificilmente imaginava é que essa relação conjugal podia levá-la, doze anos depois, à Casa Branca. E que um outro Bush, agora o filho, estava novamente no seu caminho. John Kerry é muito diferente do seu rival republicano. Até na forma de iniciar um noivado.

E o senador de Massachussets continua a empunhar, efectivamente, algumas “causas da esquerda”. O apoio à despenalização do aborto. A oposição à pena de morte. A sua “ideologia ambiental”, que o leva a castigar fiscalmente um dos sectores que mais apoia Bush, a indústria petrolífera.

Os direitos das minorias, nomeadamente a garantia de não-discriminação de homossexuais no emprego. Um controlo de armas mais apertado, com penas mais pesadas contra os cidadãos que abusem do direito de porte.

A imprensa americana está deslumbrada, não tanto com o candidato a Presidente, e mais com aquela mulher de forte carácter que, dizem, tem grande influência nas posições mais liberais que o seu marido tem vindo a assumir nesta pré-campanha.

Há três ou quatro semanas, a revista Time dedicava-se a ensinar os seus leitores como se deve prenuciar o nome de “Ter-iiii-za”.

Praticamente confirmado como o homem em quem o Partido Democrata vai apostar para derrubar George W. Bush, John Kerry tem, realmente, inflectido nalgumas posições que, enquanto senador, foi tomando sobretudo em matéria de Defesa e de Política Externa.

Kerry foi um dos congressistas democratas que votou a favor da guerra contra o Iraque. Hoje justifica o seu arrependimento, indignando-se com o facto de ter sido “enganado” pelos serviços de inteligência.

Votou também ao lado do Presidente Bush e dos Republicanos no controverso sistema de Defesa nacional, o “Patriot Act”,mas agora defende o seu progressivo abandono.

E hoje garante que vai trazer os Estados Unidos para o multilateralismo e para o respeito do Direito Internacional, mas é difícil perceber onde começa este candidato politicamente correcto de esquerda ou o senador que, nos momentos decisivos, revelou o seu pragmatismo de direita.

Tão diferente de Bush por ser ou porque convém parecer? Na economia, Kerry embarca por exemplo no logro do “exporting jobs” para aderir às mais perigosas teses proteccionistas seguidas pela actual Administração.

É o enigma habitual dos socialistas e que a Terceira Via apenas acentuou: nunca se sabe exactamente se são aquilo que parecem.

Kerry parece melhor que Bush. Não é lá um grande mérito.

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