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03 de Setembro de 2007 às 13:59

Pedra sobre pedra

A demissão de Paulo Teixeira Pinto assinala o fim do PREC no BCP. A sua derrota não foi, no entanto, a vitória de Jardim Gonçalves. A paz não está à curva. O oportunismo continuar a estar.

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Teixeira Pinto sai sem louros, demasiado tarde para sair com glória, demasiado cedo para sair com história. Abandona o BCP a olhar as carpetes; é o homem-quase, que não venceu nada; cavaleiro de triste figura, como Quixote; que tem como único prémio de consolação o reconhecimento da cedência. Não é pouco - mas também não é muito. Sai derrotado, sem uma medalha que lhe assinale uma conquista. Mas dispensa que tenham pena dele e lhe elogiem a "coragem" da abnegação.

Não, a sua coragem que deve ser elogiada não a teve à saída, na capitulação; teve-a à entrada. Teve-a quando decidiu não pagar uma loucura para comprar um banco na Roménia, fazendo com que não saísse caro ao BCP o que lhe saiu caro à sua afirmação de jovem líder; teve-a quando lançou uma OPA louca que sucumbiu à muralha accionista do BPI; teve-a quando decidiu levar ao extremo um modelo de governo de sociedade equívoco, que lhe oferecia plenos poderes mas só a fingir. Um modelo desenhado para, exteriormente, ganhar douradas medalhas de separação de poderes mas que, interiormente, pretendia que "CEO" significasse director-geral e não presidente executivo. Quiseram um homem de mão, saiu-lhes um homem de pé. Só Teixeira Pinto não percebeu que o queriam cativo.

Mas era ele, de todos, aquele que tinha o direito de não aceitar esse maniqueísmo. Porque estava escrito nos estatutos do banco; porque Jardim Gonçalves dissera "ad nauseum" que não seria o chefe do chefe. Seria verdade - mas Jardim não esperava a sublevação de Teixeira Pinto e daqueles que o usaram, o chamado "grupo dos sete", que só por erro de simpatia da imprensa foram chamados de "aliados de" ou "apoiantes de" Teixeira Pinto. Não eram apoiantes - apoiaram-se em Teixeira Pinto enquanto isso lhes foi útil e promissor. Depois, desmarcaram-se. Só Júdice (advogado de Rendeiro) e Berardo falaram de Teixeira Pinto depois da demissão mas não mais do que comiserados epitáfios.

No momento de viragem, o único que elogiou Teixeira Pinto e expressou a "honra que sentiu" em fazer parte da equipa foi Filipe Pinhal - ser magnânimo é uma forma superior de vingança. Paulo Teixeira Pinto foi carne para canhão, saiu um homem só, sem uma esperança de lealdade ou solidariedade. Nem um seu anterior "aliado", "apoiante" ou "colega" saiu a público em sua defesa. Nem um.

Esta solidão é um sintoma do ambiente fraccionado no BCP. Abusando de uma citação feita por Zita Seabra no seu livro "Foi Assim", no BCP procura-se tanto a paz, mas tanto tanto, que não restará pedra sobre pedra. (Zita refere-se aos comunistas). No BCP foi assim: todos embandeiram a paz; mas o que sobrevém a dois anos e meio de mandato não é o regresso ao BCP-de-Jardim-Gonçalves. A atomização accionista que entregava o poder à gestão (isto é, a Jardim) chegou ao fim do prazo de validade.

Há accionistas que querem mandar, há accionistas que se opuseram a outros accionistas (e outros que saíram para evitar o conflito "inter pares" - a família Mello), há uma Teixeira Duarte empenhadíssima no (e ao...) BCP, há um instável ‘cocktail’ de investidores oportunistas, há um BPI refastelado na sua poderosa fortaleza La Caixa-Itaú-Allianz, há uma Caixa e uma EDP vigilantes. Há uma urgência de clarificação, que não se fará nem rápida nem desinteressadamente. Toda a gente quererá o seu quinhão, a sua recompensa, a sua liderança ou o pagamento do seu investimento (e houve-os a cotações em máximos). Não restará, de facto, pedra sobre pedra. O bloco de granito que representava o BCP no seu primeiro logótipo não existe mais.

E agora Filipe Pinhal. Tem meia-dúzia de meses de mandato que não lhe darão para muito mais do que para fazer controlo de danos e esperar que os accionistas definam que modelo de gestão vão implementar. É, no entanto, tempo suficiente para (ter de) mostrar se é correia de transmissão de Jardim Gonçalves (como apressadamente já se intuiu), se dá sinais de independência ou se é homem de confiança da Teixeira Duarte, que assumiu um protagonismo inesperado nos últimos meses. Tem o direito à ambição de fazer o mandato seguinte. Com ou sem Jardim. Hoje, dizer que a Teixeira Duarte é aliada de Jardim Gonçalves é tão precipitado como ter escrito que o "grupo dos 7" o era de Teixeira Pinto.

O BCP não chegou à bonança, permanece na borrasca. A derrota de Teixeira Pinto não foi, ainda, a vitória de Jardim Gonçalves. Os blocos accionistas permanecem cindidos. Os estatutos ainda terão de mudar. E a assembleia geral da semana passada não foi a última desta história toda. Encerrou-se um capítulo. Abriu-se outro. Pedra sobre pedra.

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