Outros sites Medialivre
Notícias em Destaque
Opinião
03 de Maio de 2004 às 13:34

O alargamento e nós

Verdadeiramente histórico, este fim-de-semana do alargamento da União Europeia. Não foram «apenas» mais 10 países que entraram. Foram aqueles 10, que na sua maioria estavam há 15 anos do outro lado da «cortina de ferro». Este passo de gigante do projecto

  • ...

Verdadeiramente histórico, este fim-de-semana do alargamento da União Europeia.

Não foram «apenas» mais 10 países que entraram. Foram aqueles 10, que na sua maioria estavam há 15 anos do outro lado da «cortina de ferro».

Este passo de gigante do projecto europeu, contado no suplemento especial desta edição, é, simultaneamente, o que Portugal mais teme.

Desde que, há uma década, se começou a desenhar este crescimento da UE que se perceberam as ameaças que isso significaria.

Os perigos foram repetidos à exaustão, a ponto de qualquer cidadão português médio saber hoje que os «novos» europeus têm um nível de qualificação maior do que o nosso e níveis salariais muito mais baixos, que Portugal corre o risco de perder uma parte dos fundos comunitários e que este alargamento arrasta mais para Leste o centro de gravidade da União Europeia.

Apesar dessa projecção economicamente negativa, tire-se o chapéu aos sucessivos Governos portugueses, que nunca negaram um apoio entusiástico ao alargamento. E isso é bonito de ver, numa altura em que os egoísmos e as chantagem são expostos sem decoro na mesa comunitária.

Também é fácil perceber que, apesar de conscientes de tudo aquilo, fizemos pouco e mau trabalho de casa. A educação e qualificação profissional continuam no topo da lista de prioridades, sendo escandalosa a forma como derretemos tantos milhões do Fundo Social Europeu para obtermos tão fracos resultados.

E há uma desgraça que, perversamente, nos pode ajudar: marcámos passo na convergência real com a UE, o que mantém muitas das nossas regiões tristemente candidatas aos fundos da coesão.

Aqui chegados, e pouco preparados, recorre-se a um dos «clichés» da moda. O alargamento não deve ser visto como uma ameaça, mas antes como uma oportunidade. A diferença entre uma e outra perspectiva está, de facto, nas nossas mãos.

Se ficarmos parados, sem estratégia, sem fazermos pela nossa vida, não tenhamos dúvidas que o alargamento é uma forte ameaça. Pelo contrário, se formos pro-activos, se arrumarmos a casa rapidamente, se, no fundo, conseguirmos fazer tudo aquilo que sabemos que tem que ser feito, podemos estar perante uma oportunidade.

E a dimensão dessa tarefa não pode estar dependente do que se passa lá fora. As retomas alemã ou francesa podem esconder temporariamente as nossas fragilidades, mas não resolvem os nossos problemas estruturais.

E o mesmo pode dizer-se dos fundos comunitários. Uma boa negociação e alguns truques no reordenamento administrativo do país podem conseguir o milagre de manter o envelope financeiro de Bruxelas pós-2007 com poucas perdas em relação ao que temos hoje.

Mas também não será essa vitória política o passaporte para futuro de que o país necessita.

Isso mantém-nos entretidos a comer o peixe que nos oferecem e faz-nos esquecer do quanto precisamos de aprender a pescar.

Ver comentários
Mais artigos do Autor
Ver mais
Outras Notícias
Publicidade
C•Studio