Outros sites Medialivre
Notícias em Destaque
Opinião
10 de Outubro de 2006 às 13:59

Master Phelps

Keynes morreu, Friedman não convenceu e nunca mais houve um economista que fosse seguido como um papa pelos governos. Porém, o novo prémio Nobel da economia notabiliza o homem que rescreveu a bíblia dos economistas. Edmund S. Phelps.

  • ...

Porque é que os juros quase dobram a inflação? Porque é que o fraco investimento em I&D condena o crescimento económico português? Porque é que o desemprego não cai quando a inflação aumenta? Qual é a poupança anual que um país deve fazer?

Estas são perguntas quotidianas que atravessam todas as discussões, que condicionam as legislações, que subordinam as decisões do BCE, a política de salários e de emprego de um país, as análises de conjuntura do Banco de Portugal. E, para estas questões, não só há teorias como há respostas. Científicas.

E é por isso que Edmund S. Phelps é um Nobel que vale a pena. Porque introduziu ciência onde havia ideologia, derrotou as estatísticas e valorizou as expectativas, desfez os paradoxos da macroeconomia que fizeram cair governos. E porque criou ferramentas analíticas sem as quais não há, hoje em dia, macroeconomia.

É verdade que Phelps nunca alcançou o mediatismo de um Keynes ou de um Friedman. Nem será agora que passará a ser adorado. Porém, todo o economista que se preza sabe que só começa a perceber de economia depois de ter chegado a Phelps.

Desde logo, no trabalho de Phelps, as expectativas ou a psicologia dos decisores (governos, empresas, empregados e desempregados) desempenham um lugar central. E como a política económica se define e projecta no futuro, como as decisões das empresas e dos trabalhadores estão incondicionalmente agarradas à evolução estimada dos mercados, isto significa que as expectativas desempenham um lugar central no nível de inflação, no nível de salários, na taxa de desemprego, na taxa de poupança, na taxa de investimento e, até, na taxa de retorno.

Desta forma, Phelps conseguiu ligar de forma eficaz o plano da microeconomia ao da macroeconomia. Os chamados agregados macroeconómicos deixaram de ser dados estatísticos sem alma, que podiam ser martelados pelas políticas económicas.

O artificialismo das medidas governamentais, a arrumação da economia através de decreto passou, cientificamente, à categoria de disparate.

Phelps demonstrou, por exemplo, que a expectativa de que a inflação vá subir um ponto percentual tem por consequência a subida da inflação nessa exacta proporção. Demonstrou que, no longo-prazo, a inflação não afecta o nível de desemprego mas que a redução artificial do desemprego gera inflação.

Compreendemos, assim, que o nível da taxa de juros fixado pelo BCE não se ajuste à inflação estatisticamente registada mas que procure influenciar as expectativas de inflação.

E compreendemos que esse mesmo nível de juros não corresponda à taxa de desemprego verificada mas sim ao nível teórico de equilíbrio de desemprego.

Phelps não é, porém, nem um "direitista" como Friedman nem um "estatista" como nos habituámos a considerar Keynes. Phelps considera que o Estado deve tornar flexível o mercado de trabalho, removendo toda a legislação que conserve artificialmente empregos, e é um apologista do investimento estatal em formação e de políticas sociais de apoio na doença e de protecção do desemprego.

Vale a pena ter este economista norte-americano sempre presente.

Mais artigos de Opinião
Ver mais
Outras Notícias
Publicidade
C•Studio