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10 de Agosto de 2010 às 11:35

Lula gigante

Precisa de sonhar com dinheiro? Vá para Angola. Precisa de dinheiro já? Vá ao Brasil.

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Estes países, os "LOPes", são os planos B e C de uma economia portuguesa que subsiste. Depois da ameaça na Cimpor, do negócio da PT e do falhanço da Galp, o glorioso período de Lula fecha-se com chave de ouro pelo BES. Quem sabe sabe, e Ricardo Salgado é que sabe.

Em Angola passam-se mais facturas que recibos. E é uma economia onde, para ter sucesso, tem de se estar "com", nunca "contra". Mas o Brasil é outro campeonato. Vai ser a quinta maior economia mundial. Tem escala e tem escola. E além de um mercado do tamanho do mundo, está a iniciar a expansão para outros mundos. Europa. África. E Lula, de quem se fará justiça quando abandonar, dentro de meses, a presidência, foi o improvável obreiro dessa multiplicação, sobre alicerces lançados por Fernando Henrique Cardoso.

Por isso, a PT de lá não queria sair. Por isso, a Galp lá encontrou um substituto para a Eni. Por isso, embora num sentido inverso, a Cimpor teve a oferta de compra de um brasileiro e acabou comprada por outros dois. E agora o BES, que se torna a "cunha" em África de dois grupos brasileiros dez vezes maiores do que ele próprio.

É preciso ter noção da escala: as grandes empresas brasileiras comem empresas como as portuguesas ao pequeno-almoço. Em contrapartida, algumas empresas portuguesas têm um conhecimento específico em algumas indústrias mais avançado na curva da aprendizagem. E, ademais, dão passaporte europeu a investimentos brasileiros que começam a atravessar o Atlântico. O casamento de interesses é, pois, grande. Mas o poder político nestas empresas no Brasil é total.

Liedson resolve, Lula decide. Foi assim na Oi. Não foi assim na Galp porque Dilma Rousseff saiu de presidente da Petrobrás para a candidatura às presidenciais e tudo mudou. O que só mostra a astúcia do BES, que decidiu fazer deste Verão de 2010 um súbito clímax de um enredo escrito ao longo de anos: em duas semanas livrou-se da Telefónica, passou os testes de stress, apresentou bons resultados, iniciou uma amizade com o Pastor em Espanha e, num sprint final, apanha já Lula da Silva a caminho da escadaria do Planalto e obtém o seu patrocínio para o acordo para África.

O BES torna-se o David amigo de dois Golias, a quem venderá até 49% da "holding" africana mantendo o controlo e garantindo a exclusividade dos parceiros para aqueles mercados. Entra dinheiro na "holding". E entra dinheiro no BES, que vende. Ora, o BES África é hoje basicamente BES Angola e alguns negócios esperançosos. E como o BES Angola já tinha sido alienado em 49%, o BES vende o negócio pela segunda vez mantendo o controlo. Usando a expressão de Ricciardi numa das suas três ou quatro entrevistas da última semana, "é um negócio de se lhe tirar o chapéu."

Os negócios com o Brasil já passaram da parra para a uva. A diplomacia está em marcha e não será por acaso que o Irão entronizado pelo Brasil passa a ser recebido em Lisboa, na Europa. O BES e a sua PT já aprenderam como se faz e aproveitaram o canto desse cisne negro. A Cimpor fica à espera, a Galp desespera e todos eles estarão grudados na tela do Globo depois do Verão: por Dilma ou Serra. A História prega muitas partidas. Quem diria que os capitalistas amariam Lula?


psg@negocios.pt





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