Opinião
Altos voos...
A Telefónica - se concretizar a compra da operadora britânica de telefones móveis O2 - fica a maior telecom europeia em clientes (170 milhões), a terceira do mundo em capitalização bolsista (100 mil milhões de euros) e, pelo caminho, bate um recorde nacio
Não é pouco. Sabemos o que têm feito, aqui ao lado e nos últimos anos, bancos, construtoras, utilities e outras empresas de outros sectores.
No sector financeiro, o Santander já lidera a zona euro, é nono a nível mundial e na semana passada disse que não vai ficar por aqui, ao anunciar a compra de 20% de um banco nos EUA.
O BBVA, que tem descurado Portugal, também não está quieto. Hoje já atinge uma capitalização de 50 mil milhões, o que faz dele o terceiro maior banco do índice Euro Stoxx 50.
Na construção, campeões mundiais. Ferrovial está entre os líderes em rentabilidade e capitalização. ACS é referência nos quatro cantos do planeta. Grupo FCC diversificou (metade dos negócios fora do sector) e cresceu (75% em cinco anos).
Na energia, a fusão em curso obriga a actualizar informação e rankings: a 12ª utility europeia (Gas Natural) está a adquirir a 5ª europeia e maior na América Latina (Endesa), transferindo, por sua vez, um terço dos seus activos para a 7ª maior da Europa e líder nas renováveis (Iberdrola).
A moral desta história deixa-nos a todos bastante desmoralizados. É que, como bem sabemos, nem sempre foi assim. E, para quem ainda andava distraído, o sr. Corcóstegui, um ex-Santander e protagonista do enredo, passou por Lisboa a explicar tudo aquilo que a Espanha fez e Portugal não.
O ponto de partida, há vinte anos, nem sequer era muito diferente: empresas de pequena dimensão, falta de escala internacional, mercados protegidos e inflexíveis, grupos económicos controlados pelo Estado.
A ambição de criar líderes mundiais não se limitou à sintonia entre governos e empresas. Ela existiu, foi factor determinante no processo de transformação da estrutura empresarial, mas não foi o único. Nem o mais importante.
Foram as próprias empresas o principal agente da mudança. Os mercados ganharam competitividade e eficiência. A concorrência tornou-se agressiva. O Estado saiu da economia e o poder político garantiu a estabilidade e a previsibilidade.
De nada adianta contemplar Espanha e confirmar que os seus principais empresários escreveram a sua própria versão da Jangada de Pedra: descolaram do território, não para ficar à deriva no Atlântico, mas para ir à conquista da Europa.
As empresas espanholas ganharam uma escala superior à do próprio país, enquanto nós caminhamos no sentido contrário: Portugal não encolhe, mas as suas empresas estão a perder valor.
Reverter a situação não depende da dimensão. Mas é impossível ignorar o tamanho que temos. Por isso, é com prazer que este jornal hoje lhe dá as seguintes três notícias: a Varig escolhe a TAP; Portugal será a plataforma de entrada das PME brasileiras na Europa; as nossas empresas que investiram no Brasil não estão arrependidas.
Se a Espanha é a prioridade, Brasil e Angola são a inevitabilidade.