Opinião
Altice e pára o baile
Como Ícaro, a Altice voou tão alto que tem agora as asas em chamas. Os próximos meses dirão se arrepiar caminho na estratégia chegará para a salvação.
Patrick Drahi começou a carreira a vender subscrições de TV por cabo e subiu a pulso. E foi num impulso que construiu um dos maiores grupos de telecomunicações do mundo. A Altice tinha 2,9 mil milhões de euros em activos em 2012. No final de 2016, tinha 27 vezes mais, perto de 80 mil milhões.
O crescimento explosivo fez-se à força de uma vaga avassaladora de aquisições na Europa e nos EUA, que em Portugal colheu o que sobrou da PT. A energia dessa onda foi a dívida. O endividamento líquido passou de uns modestos 1,7 mil milhões de euros em 2012 para mais de 50 mil milhões nas últimas contas trimestrais.
O problema fundamental nunca é o nível da dívida em si, é a percepção sobre a capacidade para a pagar, como os portugueses têm ainda fresco na memória. E foi isso que se deteriorou de forma dramática a partir do dia 2 de Novembro, quando as contas do trimestre foram conhecidas. Quando as leram, investidores, analistas e credores perceberam que o negócio não oferece segurança sobre a capacidade de a operadora de telecomunicações mais endividada da Europa pagar o que deve. E o que deve é cinco vezes o EBITDA anual.
Os sintomas dessa desconfiança estão espelhados na bolsa: queda de quase 50% na cotação em oito sessões, desvalorização dos títulos da dívida, uma subida de 60% no custo dos contratos que oferecem protecção contra o incumprimento. O "all-in" de Drahi sempre suscitou reservas. Mas nunca como agora.
Há uma parte das dores de cabeça da Altice que tem que ver com o próprio mercado. A pujança económica da Europa coloca num horizonte mais próximo uma subida dos juros, e nesse cenário as chamadas "junk bonds", o caso da empresa francesa, são as mais vulneráveis. Nos últimos dias, ocorreram já vendas maciças nestes títulos.
Depois há a desconfiança dos clientes. Por pressão da dívida, a Altice foi sempre um grupo mais preocupado com a gestão financeira do que com os clientes, e que por isso descurou o impacto que práticas agressivas, nomeadamente na forma como lida com os recursos humanos, teriam na sua imagem.
O milionário franco-israelita-português não tinha alternativa a não ser mudar de estratégia, travar aquisições. Em vez de comprar, vai vender activos. Será o Meo um deles? Drahi diz que a convergência entre telecomunicações e media é para continuar. Também a compra da Media Capital o será? O mundo mudou para a Altice. Veremos se o novo voo, mais baixo, será suficiente para garantir uma aterragem suave.
O crescimento explosivo fez-se à força de uma vaga avassaladora de aquisições na Europa e nos EUA, que em Portugal colheu o que sobrou da PT. A energia dessa onda foi a dívida. O endividamento líquido passou de uns modestos 1,7 mil milhões de euros em 2012 para mais de 50 mil milhões nas últimas contas trimestrais.
Os sintomas dessa desconfiança estão espelhados na bolsa: queda de quase 50% na cotação em oito sessões, desvalorização dos títulos da dívida, uma subida de 60% no custo dos contratos que oferecem protecção contra o incumprimento. O "all-in" de Drahi sempre suscitou reservas. Mas nunca como agora.
Há uma parte das dores de cabeça da Altice que tem que ver com o próprio mercado. A pujança económica da Europa coloca num horizonte mais próximo uma subida dos juros, e nesse cenário as chamadas "junk bonds", o caso da empresa francesa, são as mais vulneráveis. Nos últimos dias, ocorreram já vendas maciças nestes títulos.
Depois há a desconfiança dos clientes. Por pressão da dívida, a Altice foi sempre um grupo mais preocupado com a gestão financeira do que com os clientes, e que por isso descurou o impacto que práticas agressivas, nomeadamente na forma como lida com os recursos humanos, teriam na sua imagem.
O milionário franco-israelita-português não tinha alternativa a não ser mudar de estratégia, travar aquisições. Em vez de comprar, vai vender activos. Será o Meo um deles? Drahi diz que a convergência entre telecomunicações e media é para continuar. Também a compra da Media Capital o será? O mundo mudou para a Altice. Veremos se o novo voo, mais baixo, será suficiente para garantir uma aterragem suave.
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