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A Mina dos milhões

22.800.000.000 de euros. É todo este dinheirão que o país está a receber em fundos estruturais, desde 2000 até ao próximo ano, por ser uma região Objectivo 1 na União Europeia. Ou seja, por ser pobre.

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Nada que se compare com os 420 milhões de euros que as Minas de São Domingos se preparam para receber, num investimento numa central eléctrica fotovoltaica. Mas estes impressionam muito mais.

Portugal troca, com vantagem, algumas dezenas destes projectos por um Quadro Comunitário de Apoio inteiro.

Aqueles zeros todos do QCA que está a acabar não foram suficientes para fixar gente e riqueza no Alentejo. As Minas de S.Domingos são a imagem da desertificação. Não há gente nova. Não há actividade relevante. Esta região interior do concelho de Mértola convida à resignação.

Por isso é que esta notícia tem tanto de bom como de surpreendente. Porque onde não havia mais nada a fazer surge do nada esta coisa espantosa. A partir do sol, terrenos e painéis, nascem 800 empregos directos.

Aquela terra vai ter de importar gente. Algo de absolutamente novo, desde que os ingleses desactivaram a exploração mineira, nos idos anos 60.

A Mina de São Domingos pode, assim, tornar-se uma inspiração. Além de ser um exemplo de como a nossa economia precisa muito mais de capital e muito menos de dinheiro, também nos dá um suplemento de energia. Fotovoltaica e de alma.

No passado recente, os portugueses já provaram por diversas vezes como podem tirar partido do atraso. O nosso sistema bancário passou a funcionar com as tecnologias mais avançadas do mundo, porque tinha sido dos últimos a informatizar-se.

A Europa inteira estava já toda ligada por televisão de satélite, enquanto os telhados das nossas cidades estavam carregados daquelas antenas horrorosas e artesanais. Em pouco tempo, Portugal ficou com a melhor e a mais vasta ligação de fibra óptica do mundo.

O drama têxtil do Vale do Ave é a prova mais acabada de que o dinheiro, por si só, não resolve coisa alguma. A esperança que nasce em São Domingos é o sinal de que, ao contrário do que os choques tecnológicos podem fazer supor, há outros factores de competitividade por explorar. O território não é «déjà vu». E o país, se quer valorizar-se, se acredita que é possível manter-se colado ao mapa da Europa, tem de olhar para o seu território, dar-lhe a infraestrutura física necessária e valorizá-lo em função das suas potencialidades.

As Minas de S. Domingos só têm terra e sol. Não há nada mais árido, pois não? Pois não. Que assim seja. E esta é a atitude positiva para as negociações na U.E. Se há projectos, que venha dinheiro, que venham os subsídios.

Vamos cobrir-nos de vergonha se, duas décadas e muitos zeros de subsídios depois, formos mendigar o próximo QCA de chapéu na mão. Sei que outros o fazem. Sei que a Espanha o faz. Mas não somos espanhóis e temos orgulho. Não queremos também perder as razões válidas para isso.

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