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10 de Janeiro de 2008 às 13:59

A “golden” Caixa

O mundo está ao contrário: o maior banco privado tem uma lista candidata gritantemente politizada; o banco público empossou ontem uma administração partidariamente “light”. Mas é pouco leve a tarefa da Caixa: Faria de Oliveira herda um banco instrumentali

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Só por uma deslumbrada ingenuidade pode alguém achar que as administrações da Caixa são escolhidas sem critérios políticos. Mais: é natural e admissível que o accionista Estado escolha gente da sua confiança para gerir o colosso CGD. Desde que além da confiança política tenha competência técnica...

A nomeação de Faria de Oliveira foi, na verdade, um dos processos mais higiénicos na CGD dos últimos anos. A política está toda lá dentro e é evidente que houve pressão ou utilidade em nomear um líder não socialista. Mas Teixeira dos Santos não repetiu a pouca vergonha de nomear um outro Armando Vara, que tinha muito aparelhismo e pouca experiência bancária há dois anos e meio. Nem fez como Bagão Félix fizera com a nomeação de Celeste Cardona, que aliás tentou também desta vez segurar-se à cadeira. Nem fez ainda como Manuela Ferreira Leite, que antes colocara dois presidentes (Mira Amaral e António de Sousa) a gerir um contra o outro.

Não, desta vez as más-práticas foram todas remetidas para o BCP. Na Caixa, a equipa é parcimoniosa (tem menos gestores), aglomera dois dóceis social-democratas com três homens de confiança de Teixeira dos Santos e ainda dois gestores da Caixa. Que não lhes falte em competência o que lhes sobra em equilíbrio; que tanta bonomia não venha a ser cedência a instrumentalizações do Governo.

Porque a Caixa está cheia de poder. Tornou-se no emissário dos governos em grandes empresas, uma máscara para substituir as decadentes “golden shares”. É assim que vai arbitrando no BCP; que cimenta o “núcleo duro nacional” da EDP; que serve de tampão preventivo à destemperança de Américo Amorim na Galp; que vai garantir uma transição controlada de poder na PT Multimédia; até mesmo que se mantém em operações esdrúxulas como a Compal. Tudo era directamente gerido por Armando Vara.

A receita é envergonhada mas não é inédita. Em França, Sarkozy parece ser um aluno atento de José Sócrates, na agressividade, nas corridas televisionadas, na reforma da Segurança Social. E na Caixa Geral de Depósitos. Com uma diferença: assume.

Enquanto ontem José Sócrates jurava a pés juntos no Parlamento que a escolha de Faria de Oliveira não é minimamente partidária “mas determinada pela competência do gestor”, Sarkozy assumiu há dois dias em conferência de imprensa a sua intenção declaradamente intervencionista (quer moralizar o capitalismo penalizando fiscalmente as empresas que aumentem lucros sem aumentar os salários) e proteccionista: prometeu proteger as empresas francesas dos “private equities” e dar-lhes meios para se defenderem de estrangeiros e se desenvolverem. E o estatal Caisse des Depots et des Consignations será “o instrumento desta política de defesa”, disse.

O populismo do intervencionismo de Sarkozy é digno de Richard Nixon, quando congelou preços e salários para controlar a inflação americana (mais tarde assumiu ter sido o seu maior erro de governação). E o proteccionismo francês nunca foi exemplo a imitar. Mas pior é se o imitamos com falinhas mansas: está a Caixa a tornar-se o banco de investimento do Estado? Pior: dos governos?

Depende da fibra Faria de Oliveira.

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