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A era dos extremos

O condutor que goste de viajar através de estradas com longas rectas, por itinerários previsíveis, ficará incomodado se tiver que percorrer caminhos sinuosos

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O condutor que goste de viajar através de estradas com longas rectas, por itinerários previsíveis, ficará incomodado se tiver que percorrer caminhos sinuosos, recheados de subidas e descidas íngremes. O mesmo sucederá ao investidor que, cansado da volatilidade que tem marcado o comportamento dos mercados, ansiar por tempos mais tranquilos. A má notícia é que não deve contar com uma acalmia nos próximos meses.

Esta é, pelo menos, a perspectiva que diversos analistas subscrevem em relação ao que se poderá passar em 2012. As previsões, se é que se pode dar uma designação tão pomposa à tentativas de adivinhar o futuro próximo numa conjuntura plena de incertezas, andam pelos extremos. A bolsa de Lisboa pode disparar no próximo ano, assim como pode registar mais um exercício de quebra nas cotações. E, se aquilo que pode correr muito mal, correr mesmo muito mal, o mergulho será violento.

Para um mercado que, a uma semana do final de 2011, regista uma descida média de 30% nas cotações, as perspectivas continuam a não ser risonhas. A chave que permitiria abrir a porta para o arranque de um cenário de recuperação não está apenas dependente do crescimento das empresas cotadas e dos seus resultados. A evolução da crise na Zona Euro terá um peso decisivo na confiança dos investidores.

A mais recente cimeira europeia chegou ao final com um compromisso para os governos acatarem regras de disciplina financeira mais apertadas, mas a questão é que a resposta mais desejada pelos mercados ficou na gaveta. Em contraste com o pragmatismo dos Estados Unidos e do Reino Unido, a autoridade monetária europeia mantém-se de fora de uma solução que implique imprimir moeda, deixando nas mãos dos poderes políticos a capacidade de persuadirem os credores de que as medidas de austeridade são merecedoras de credibilidade.

A dúvida sobre o talento da Zona Euro para superar a crise das dívidas soberanas mina a economia mundial, mina os mercados financeiros e, inevitavelmente, mina as possibilidades de as empresas cotadas em Lisboa melhorarem as suas "performances". Portugal enfrenta dificuldades de financiamento e um dos factores que explicam a situação está na debilidade da economia. Em 2012, uma das más surpresas pode vir de uma recessão mais profunda do que aquela que está inscrita nas projecções oficiais.

Empresas que estão muito dependentes da evolução do mercado interno ficarão mais expostas à contracção. As acções que reflectem a evolução de negócios exportadores e internacionalizados podem ser o refúgio de rendibilidade que beneficiará do crescimento de outros mercados. "Podem ser", porque os riscos políticos não dão segurança a ninguém.



joaosilva@negocios.pt
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