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18 de Fevereiro de 2013 às 00:01

Três retratos de um país desassossegado

1. Feche os olhos e imagine um cenário a preto e branco. É lusco-fusco. Crianças em volta de uma bola, num improvisado campo pelado, cada uma delas criando a sua própria nuvem de pó. Em redor o vazio. Um perturbante despojamento.

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Esta é uma descrição minimalista da fotografia de Daniel Rodrigues que venceu o primeiro prémio da secção "Daily Life" da World Press Photo. A fotografia foi tirada na Guiné-Bissau. Daniel Rodrigues, por estes dias, está sem trabalho. "Estou desempregado, e até tive de vender a minha máquina fotográfica", disse ele ao Negócios.


2. Na sexta-feira, uma boa parte dos presentes nas galerias do Parlamento interrompeu o discurso de Pedro Passos Coelho, cantando o "Grândola Vila Morena" de José Afonso. De todas as formas de cortar uma intervenção "esta parece-me significativamente a de mais bom gosto", comentou o primeiro-ministro.

O movimento "Que se lixe a troika" enviou um comunicado às redacções, explicando que "a música de José Afonso foi a escolhida para transportar de volta ao local onde se legisla para todos o sentimento de que é necessário outro caminho, que é necessário que haja uma democracia que corresponda às necessidades do povo e não das instâncias internacionais a comandar os destinos do país."

3. O secretariado do Instituto Padre António Vieira enviou um e-mail ao Negócios, na passada semana, solicitando a divulgação do projecto GEPE (Grupos de Entreajuda para a Procura de Emprego). Os GEPE, explica, são grupos informais de pessoas desempregadas que se encontram semanalmente, destinados a combater o isolamento e a negatividade que resulta da situação do desemprego e a reunir esforços na procura activa de emprego. Não temos subsídios nem soluções mágicas para oferecer, avisam. Só ajuda e a oportunidade de ajudar os outros. E uma sensibilidade social notável, acrescento.

4. Há um denominador comum nestas três histórias. São retratos de um país angustiado e desassossegado. Mas são também retratos inspiradores que transmitem uma serenidade exemplar, por contraste com a costumeira gritaria dos líderes políticos, sejam eles Governo ou oposição, ou com os ‘soundbites’ incendiários de figuras com responsabilidades na sociedade civil como Fernando Ulrich ou Francisco José Viegas. São três retratos que remetem para duas questões nucleares – a da justiça social e dos valores. A primeira sintetiza-se numa frase de Olof Palme: "não quero que os ricos chorem, quero é que os pobres riam." A segunda pode ser concentrada num raciocínio perfeito, em entrevista ao Weekend do Negócios, na passada sexta-feira: "os valores são o eixo da roda. A roda corre todas as paisagens. O eixo acompanha a roda, mas não anda".


*Subdirector

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