Opinião
Overdose de provincianismo
Na manhã de ontem, António Costa escreveu no Twitter: "O Porto oferece à EMA (Agência Europeia do Medicamento) a melhor solução para a sua relocalização. A União Europeia aproveita esta oportunidade? Espero que sim." A resposta chegou à tarde: não.
Como era expectável, o Porto perdeu a corrida para receber a EMA, apesar dos estudos que colocavam a cidade entre as cinco favoritas para receber a sede deste organismo. No rescaldo, o presidente da Câmara do Porto, Rui Moreira, transformou a derrota numa vitória moral: "Passámos a estar no mapa, passámos a estar num campeonato onde até hoje nunca tínhamos estado. (…) Passar a fazer parte das cidades que podem concorrer neste tipo de candidaturas é muito interessante."
A candidatura de Portugal para receber a EMA é paradigmática do provincianismo nacional. O Governo começou por querer candidatar Lisboa, caiu o Carmo e a Trindade, que neste caso foram os Clérigos e o Palácio da Bolsa. A capital foi acusada de ser sôfrega, e o Governo, reptilmente, mudou de pele e vestiu a camisola da Invicta, para satisfação de todos os egos. "Do ponto de visto interno e nacional, objectivamente, é melhor que seja o Porto do que Lisboa, porque assegura uma melhor redistribuição das oportunidades, uma melhor inserção nas redes globais", justificou António Costa
Em Julho deste ano, o presidente da Apifarma (Associação Portuguesa da Indústria Farmacêutica), João Almeida Lopes, dizia ter informações de que os funcionários da EMA preferiam mudar-se para Lisboa. "Foi feito um inquérito interno e Lisboa saiu largamente vencedora comparativamente com Milão, Copenhaga, Lille e outras cidades concorrentes", disse este responsável ao Expresso. Em resultado, foi destratado pelo presidente da Câmara do Porto: "Não sei quem é que ele representa. Não sei se ele vende aspirinas. Não faço ideia de quem seja", declarou. Ontem ficou a saber-se que o senhor que Rui Moreira não conhecia acertou. Duas das cidades por ele referidas, Milão e Copenhaga, ficaram na "short-list", Milão foi à final com Amesterdão e perdeu por... moeda ao ar.
António Costa abdicou da candidatura de Lisboa por razões políticas, Rui Moreira lutou pela candidatura do Porto por motivos similares. No fim, perderam os dois. Neste Portugal dicotómico Lisboa-Porto (e não Norte-Sul como muitos pretendem), quem fica sempre a perder é Portugal. Afinal, o problema não é a limitação geográfica do país, mas sim a pequenez das mentalidades. O país ficou sem a EMA, mas contentaram-se todas as paróquias. Assim se cumpre o Portugal dos pequenitos.
A candidatura de Portugal para receber a EMA é paradigmática do provincianismo nacional. O Governo começou por querer candidatar Lisboa, caiu o Carmo e a Trindade, que neste caso foram os Clérigos e o Palácio da Bolsa. A capital foi acusada de ser sôfrega, e o Governo, reptilmente, mudou de pele e vestiu a camisola da Invicta, para satisfação de todos os egos. "Do ponto de visto interno e nacional, objectivamente, é melhor que seja o Porto do que Lisboa, porque assegura uma melhor redistribuição das oportunidades, uma melhor inserção nas redes globais", justificou António Costa
António Costa abdicou da candidatura de Lisboa por razões políticas, Rui Moreira lutou pela candidatura do Porto por motivos similares. No fim, perderam os dois. Neste Portugal dicotómico Lisboa-Porto (e não Norte-Sul como muitos pretendem), quem fica sempre a perder é Portugal. Afinal, o problema não é a limitação geográfica do país, mas sim a pequenez das mentalidades. O país ficou sem a EMA, mas contentaram-se todas as paróquias. Assim se cumpre o Portugal dos pequenitos.
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