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Chover no molhado

Veio a chuva e com ela o sossego. A seca ficou para trás, já só afecta 0,1% do território, e apenas três barragens têm as suas reservas abaixo dos 40%. Nos próximos dias deverá continuar a chover em Portugal, o que permitirá fortalecer as reservas de água e criar condições para um Verão relativamente tranquilo nesta frente.

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Pelo caminho, o Governo andou em bolandas com a limpeza da floresta, os ultimatos aos proprietários e as acções de proselitismo, nas quais o primeiro-ministro e até o Presidente da República deram o exemplo. Ninguém, embora por razões diversas, quer a repetição das tragédias do ano passado.

No meio-tempo, António Costa ainda teve tempo para lançar farpas à comunicação social e aos comentadores a propósito dos incêndios e da reforma da floresta aprovada no seu rescaldo. "Só desperta para o problema no meio da tragédia, e esquece habitualmente o problema na hora certa para prevenir que a tragédia possa vir a ocorrer", declarou o primeiro-ministro no Parlamento, a 15 de Março.

Já houve debate de sobra sobre a confusão de competências que emerge do raciocínio do chefe do Governo, porque não é aos jornais nem aos comentadores que compete a função de prevenir. De alertar, isso sim, e por isso aqui fica o alerta, em plena época de chuva.

O país vive num clima de seca permanente, como advertiu Eduardo Oliveira e Sousa, presidente da CAP, numa entrevista ao Negócios, no já longínquo Maio de 2017. As chuvas de agora servem tão-só para camuflar uma realidade que não é deste ano e irá continuar se nada for feito para a alterar. É preciso que o plano nacional de regadio seja consequente e é absolutamente fundamental que sejam avaliadas as alternativas para a retenção de águas, seja na forma de barragens ou de albufeiras. Até porque a tendência é de que a chuva seja, progressivamente, um bem mais escasso.

"Para termos água todo o ano temos de a aproveitar cada vez melhor, guardando-a e racionando a sua utilização. Só não vê isto quem não quer, tudo o resto é pura demagogia", sublinhou o líder da CAP em Março deste ano ao Expresso.

Além disso, é preciso acautelar que a agricultura se reconverta a estas alterações climáticas irreversíveis e que a regionalização não trave a adopção de medidas de gestão do território que devem ter um carácter nacional.

Lá mais para o meio deste ano, quando a seca se repetir, o assunto ganhará de novo as atenções nacionais e talvez o primeiro-ministro ouse voltar a dizer, de forma cândida, que a comunicação social só desperta "para o problema no meio da tragédia". Também por isso aqui fica este alerta que, por estes dias, terá o mesmo efeito de chover no molhado.

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