Opinião
Uma nova era de extremos?
O receio de uma nova era de extremismos na Europa está espelhado nas perspectivas traçadas pelos bancos de investimento para o próximo ano.
O receio de uma nova era de extremismos na Europa está espelhado nas perspectivas traçadas pelos bancos de investimento para o próximo ano. A instabilidade política na Grécia mostra que o temor é justificado.
Imagine que o primeiro-ministro grego não consegue reunir o número suficiente de deputados (180) para eleger o novo presidente até quarta-feira. O governo cai. As eleições dão a vitória ao Syriza, à frente nas sondagens com 35,5%, segundo o inquérito da Public Issue, divulgado em Outubro.
Em cima da mesa passa a estar um corte de relações com a troika e o não pagamento da dívida. No limite, a saída da Grécia da Zona Euro. Cenas de um filme que, sendo ficção, já passou diante dos olhos dos investidores. A bolsa grega caiu 20% na semana passada e os juros exigidos na dívida saltaram de 6,1% para 9,4% nos títulos a cinco anos.
Se é em Atenas que a chegada ao poder de um partido da esquerda radical e anti-europeísta se afigura uma possibilidade mais real, a capital grega não é a única onde emergem partidos nos extremos do espectro político.
O regime de austeridade imposto nos países da periferia da Zona Euro deu força ao Podemos. Com raízes no Movimento dos Indignados, o partido, ideologicamente mais à esquerda, vai à frente nas últimas sondagens. Um estudo de opinião divulgado a 24 de Novembro pelo El Mundo dá 28,3% à força política liderada por Pablo Iglesias, triplicando o resultado conseguido nas eleições europeias. O PP surge em segundo (26,3%) e o PSOE em terceiro (20,1%). Num ano, tempo que falta para as eleições legislativas, ainda muito pode acontecer.
Noutras paragens é o nacionalismo de direita que vem ganhando força. No Reino Unido, o UKIP, que defende a saída do país da União Europeia surge em segundo lugar nas sondagens, atrás dos Conservadores e à frente dos Trabalhistas. As eleições são em Maio, com o governo pressionado a avançar com medidas de austeridade para baixar o défice (6%). Cameron já prometeu um referendo à permanência na UE, caso vença.
Na Suécia, os Democratas Suecos, que contribuíram para o derrube do governo, podem ganhar terreno nas eleições agendadas para Março. E há ainda que contar com o peso de partidos como a Frente Nacional, em França, a Alternativa para a Alemanha, ou o Partido da Liberdade austríaco.
Um estudo da Chatham House divulgado em Setembro conclui que, uma vez assumidas responsabilidades governativas, os partidos populistas tendem a moderar as suas opções políticas. É pouco para tranquilizar os investidores. Sem que se vislumbre da parte das lideranças europeias uma resposta capaz de fazer frente aos extremismos, estes prometem ser uma fonte de instabilidade para os mercados europeus à porta de cada acto eleitoral.