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Três lições do caso Gross

A saída de Bill Gross da gestora de fundos americana Pimco está para a indústria de investimento, como a saída de Bill Gates está para a Microsoft.

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A saída de Bill Gross da gestora de fundos americana Pimco está para a indústria de investimento, como a saída de Bill Gates está para a Microsoft. Conhecido como o rei das obrigações, da decisão de Gross emergem três lições a reter pelos investidores.


1. Não ir contra os bancos centrais. Bill Gross ganhou o título de rei das obrigações à conta do montante que geria, mas também de um desempenho muito acima do mercado. O Total Return Fund rendeu em média 7,9% desde o seu lançamento em 1987. Mas nos últimos anos parece ter perdido a estrelinha. As análises sobre a sua saída são unânimes num ponto: o guru subestimou a capacidade da Reserva Federal para manter as taxas de juro das obrigações em mínimos históricos por um período prolongado de tempo. No início de 2011, vendeu todas as Treasuries (obrigações de dívida pública americana) perante a aproximação do fim do segundo programa de expansão monetária e no pressuposto de que a pressão sobre a oferta, provocada pela necessidade de emitir obrigações para financiar o gigantesco défice dos EUA, levaria a uma subida das taxas de juro e a uma descida do preço dos títulos. Que afinal não aconteceu, devido à persistência de níveis de inflação muito baixos e à continua intervenção da Fed no mercado. O fundo começou a sofrer perdas - no último ano foi batido por 65% dos fundos no mercado - e saídas de dinheiro. Soros pode ter levado a melhor sobre o Banco de Inglaterra, mas ninguém parece ser capaz de ir contra o BCE ou a Fed.


2. O tamanho importa. Em Wall Street diz-se que "é difícil bater o mercado quando se é o mercado". Gross geria o maior fundo do mundo, com 221,6 mil milhões de dólares sob gestão, uma soma a rondar o PIB português. Mover este monstro era um desafio cada vez mais complexo. O montante tornava difícil estar no mercado sem que as apostas fossem notadas. E, sobretudo, limitava o investimento em activos com menos liquidez. O rei trocou a Pimco pelo Global Unconstrained Bond Fund da Janus Capital, que gere 13 milhões de dólares. Para voltar a ser feliz.


3. Os grandes fundos podem ter impacto sistémico. Não é uma novidade. A falência do fundo de capital de risco LTCM contribui para acentuar a crise financeira russa de 1998. Mas o caso Gross vem reforçar esta ideia. Devido ao gigantesco montante que geria, o anúncio da sua saída, e os resgates de 23,5 mil milhões de dólares que se seguiram, colocaram pressão sobre o peso mexicano e perdas nas obrigações indexadas à inflação. No mercado, fala-se de uma volatilidade que não se via há 10 anos. 

 

 

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