Opinião
Ser dono de uma start-up
A Bloomberg publicou na semana passada um artigo em que compara a região de Lisboa à Califórnia. Pega na ponte 25 de Abril, parecida com a Golden Gate de São Francisco, fala nos surfistas, e refere a indústria tecnológica vibrante.
A Bloomberg publicou na semana passada um artigo em que compara a região de Lisboa à Califórnia. Pega na ponte 25 de Abril, parecida com a Golden Gate de São Francisco, fala nos surfistas, e refere a indústria tecnológica vibrante. Lisonjeira, a comparação é excessiva nesta última parte. Mas o país só tem a ganhar em justificá-la.
A vaga start-up que corre o país não pode ser separada da crise económica dos últimos anos. O desemprego e a dificuldade dos jovens em encontrar o primeiro emprego forçou o auto-emprego. Um estudo da Informa DB sobre o empreendedorismo em Portugal conclui que em 2013 e 2014 nasceram mais de 35 mil empresas por ano, os números mais elevados desde 2007.
A este respeito, a distância entre Portugal, a costa oeste da Europa, e a Califórnia, a costa oeste dos EUA, continua a ser tão grande como a superfície terrestre que as separa. Temos falta de espírito empreendedor, preferindo a falsa segurança do trabalho por conta de outrem, e um medo cultural de falhar. E nisso não estamos sozinhos na Europa. O presidente executivo da Bosch, Volkmar Denner, apontava recentemente os mesmos males à Alemanha.
O que o gigante europeu tem claramente mais do que Portugal é capacidade de investimento. Será talvez a maior pecha do nosso ecossistema, pese embora o esforço meritório dos poucos "business angels" e fundos de capital semente activos no país. É preciso reforçar essa capacidade e alimentá-la com incentivos. No Reino Unido, um investidor particular pode deduzir até 50% do capital investido numa start-up. Até porque estas empresas têm um papel importante na criação de emprego em Portugal: representam 18% do emprego criado anualmente, segundo o já citado estudo da Informa DB.
Neste contexto, Portugal só tem a ganhar com a maior democratização do acesso a este tipo de investimento proporcionado pelo "crowdfunding", recentemente regulamentado. O chamado financiamento colaborativo permite, com baixos montantes, financiar ou entrar no capital de start-ups, como explica o tema de capa do Investidor Privado. Também aqui a regra de ouro é investir em várias empresas. É que para acertar no próximo Facebook ou Instagram, tem de se aceitar que há outras apostas que não vão sobreviver.
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