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09 de Novembro de 2015 às 09:58

Ser dono de uma start-up

A Bloomberg publicou na semana passada um artigo em que compara a região de Lisboa à Califórnia. Pega na ponte 25 de Abril, parecida com a Golden Gate de São Francisco, fala nos surfistas, e refere a indústria tecnológica vibrante.

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A Bloomberg publicou na semana passada um artigo em que compara a região de Lisboa à Califórnia. Pega na ponte 25 de Abril, parecida com a Golden Gate de São Francisco, fala nos surfistas, e refere a indústria tecnológica vibrante. Lisonjeira, a comparação é excessiva nesta última parte. Mas o país só tem a ganhar em justificá-la.

A vaga start-up que corre o país não pode ser separada da crise económica dos últimos anos. O desemprego e a dificuldade dos jovens em encontrar o primeiro emprego forçou o auto-emprego. Um estudo da Informa DB sobre o empreendedorismo em Portugal conclui que em 2013 e 2014 nasceram mais de 35 mil empresas por ano, os números mais elevados desde 2007.

Este ímpeto tem sido ajudado por iniciativas das universidades, câmaras municipais, bancos e do Estado central que promovem a criação de incubadoras de start-ups. E Lisboa, a par do Porto e Braga, tem revelado particular dinamismo. O acolhimento nos próximos três anos do Web Summit - o maior evento europeu de start-ups - veio colocar a capital portuguesa no mapa global. Foi este, de resto, o pretexto para o artigo já citado da Bloomberg. E é uma oportunidade de ouro para dar fôlego a um ecossistema mais amigo do empreendedorismo.

A este respeito, a distância entre Portugal, a costa oeste da Europa, e a Califórnia, a costa oeste dos EUA, continua a ser tão grande como a superfície terrestre que as separa. Temos falta de espírito empreendedor, preferindo a falsa segurança do trabalho por conta de outrem, e um medo cultural de falhar. E nisso não estamos sozinhos na Europa. O presidente executivo da Bosch, Volkmar Denner, apontava recentemente os mesmos males à Alemanha.

O que o gigante europeu tem claramente mais do que Portugal é capacidade de investimento. Será talvez a maior pecha do nosso ecossistema, pese embora o esforço meritório dos poucos "business angels" e fundos de capital semente activos no país. É preciso reforçar essa capacidade e alimentá-la com incentivos. No Reino Unido, um investidor particular pode deduzir até 50% do capital investido numa start-up. Até porque estas empresas têm um papel importante na criação de emprego em Portugal: representam 18% do emprego criado anualmente, segundo o já citado estudo da Informa DB.

Neste contexto, Portugal só tem a ganhar com a maior democratização do acesso a este tipo de investimento proporcionado pelo "crowdfunding", recentemente regulamentado. O chamado financiamento colaborativo permite, com baixos montantes, financiar ou entrar no capital de start-ups, como explica o tema de capa do Investidor Privado. Também aqui a regra de ouro é investir em várias empresas. É que para acertar no próximo Facebook ou Instagram, tem de se aceitar que há outras apostas que não vão sobreviver.
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