Opinião
Quem ganha e quem perde com a demissão de António Domingues
Num caso sem vencedores, há quem saia por cima na polémica da Caixa e protagonistas que ficam fragilizados.
CATARINA MARTINS
Coordenadora do BE
PEDRO PASSOS COELHO
Presidente do PSD
O PSD é o principal responsável pelo ruído à volta da Caixa e pelo desgaste da nova administração. Sem conseguir arranjar outros a que se agarrar, fez deste o seu cavalo de batalha nas últimas semanas. Criticável no excesso, no fim o ataque rendeu dividendos. A demissão de António Domingues é uma derrota do Governo e, portanto, uma vitória, mesmo que pírrica, para a oposição.
ASSUNÇÃO CRISTAS
Presidente do CDS-PP
Embora não com o ardor do PSD, o CDS também fustigou o Governo com o tema da gestão da Caixa, acusando-o de falta de transparência no processo e exigindo a divulgação das declarações de rendimentos. Aprovou, ao lado do PSD e do Bloco de Esquerda a alteração que inviabiliza a excepção no Estatuto do Gestor Público para os administradores da Caixa.
MARQUES MENDES
Comentador
CARLOS CÉSAR
Presidente do PS
O PS sai relativamente incólume desta trapalhada, que atinge sobretudo o Governo. Carlos César defendeu desde o início o cumprimento da legislação, afirmando há um mês que "os gestores da Caixa Geral de Depósitos têm de entregar a declaração de rendimentos". Só não conseguiu evitar que o Bloco não votasse ao lado do PSD e do CDS. Nem à segunda.
QUEM PERDE
ANTÓNIO COSTA
Primeiro-ministro
A Caixa estava desde Dezembro em gestão corrente. Além do plano de recapitalização, o que se exigia do Governo é que encontrasse uma solução duradoura e que trouxesse estabilidade. Falhou, por completo, neste capítulo, o que também é responsabilidade do primeiro-ministro. O caso também não abona a favor da imagem de Portugal junto das instituições europeias.
MÁRIO CENTENO
Ministro das Finanças
Sai fragilizado com o fim da solução de gestão que defendeu para a Caixa. Geriu mal o processo. Terá dado a Domingues condições excepcionais, sem perceber que elas poderiam degenerar num imbróglio político. A excepção na apresentação das declarações "não é lapso", chegaram a dizer as Finanças. Depois teve de dar o dito pelo não dito. A recapitalização ficou para 2017.
MOURINHO FÉLIX
Sec. Estado do Tesouro
Ricardo Mourinho Félix é, a par de Mário Centeno, o que sai mais "chamuscado". Chegou a dizer num dia de manhã que "não havia acesso do público em geral às declarações" de rendimentos dos administradores da Caixa, para garantir à tarde que as mesmas tinham de ser entregues no Constitucional. Já tinha recuado a propósito das alterações ao regime das instituições de crédito.
ANTÓNIO DOMINGUES
Presidente da CGD
O processo da sua nomeação foi marcado por casos desde o início. António Domingues achou, mal, que podia estar no maior banco público como quem está num privado. Que podia ficar acima da política. Percebeu, tarde demais, que só a entrega rápida da declaração de rendimentos podia ter estancado os danos. No fim, tornou-se um incómodo para o accionista e perdeu o apoio político.
VÍTOR CONSTÂNCIO
Vice-presidente do BCE
O Banco Central Europeu, de que Vítor Constâncio é vice-presidente, apadrinhou a escolha de António Domingues e da sua equipa para a gestão da Caixa Geral de Depósitos. Sendo alheio à trapalhada que se seguiu, não deixa de ser beliscado na sua imagem por ter sancionado, não sem várias exigências, uma solução que durou parcos meses.