Opinião
O regresso à normalidade no BCP
Quem investiu na banca portuguesa foi trucidado nos últimos anos. Bancos resolvidos, papéis tidos como seguros que agora nada valem, aumentos de capital que só deram prejuízo, acções em mínimo histórico - foi uma razia.
O anúncio de uma nova operação pelo BCP deixa, por isso, muitos com fel na boca. Pode desta vez ser diferente?
No longo processo de recuperação dos excessos e desmandos do passado na concessão de crédito, e de digestão dos efeitos da grave crise económica que o país atravessou, aguardamos a cada ano poder chegar à Boa Esperança. Este aumento de capital do BCP pode deixar-nos mais perto.
É verdade que cerca de 30% da operação está já "comprada" pela Fosun, o que ajuda bastante. Mas sobram 930 milhões de euros, que um consórcio de bancos internacionais aceitou tomar firme. Corra como correr, a operação vai fazer-se. E ter sido possível montar esta operação, num contexto de subida dos juros de Portugal, e com ventos contrários a soprar da Europa (a crise na banca italiana) e dos Estados Unidos (o terramoto Trump), é digno de nota. Melhor, é um sinal de confiança.
Com o dinheiro que receberá de accionistas e investidores, o BCP será capaz de reembolsar a ajuda pública, como já fez o BPI. É uma libertação. Do abraço do Estado e dos elevados juros que os amargos CoCos custavam a cada ano (65 milhões). Sem eles, o pagamento de dividendos deixa de ser uma impossibilidade. Na apresentação que fará aos investidores, divulgada na quinta-feira, o banco acena já com essa cenoura, falando do "potencial regresso" à remuneração dos accionistas em 2019. Para haver dividendos tem de haver lucros, e o banco diz que os haverá, equivalentes a 10% dos capitais próprios.
Na apresentação é usada por mais de uma vez a expressão "regresso à normalidade". É sintomático que o banco a use. Desde 2008 que o BCP, e o resto do sector, vive em modo de crise. O banco passou por uma reestruturação, reduziu funcionários, fechou balcões, cortou operações. Crise, crise, mais crise. Parte dela auto-infligida. E muitos investidores nunca perdoarão o que lhes aconteceu. Mas o banco vê uma nova fase no horizonte.
Este artigo não é uma recomendação de investimento. Essa é uma avaliação que cabe a cada um. A incerteza é, cada vez mais, o prato do dia. Os riscos do mercado accionista não são menores.
O crédito malparado continua a ser muito elevado, sobretudo nos empréstimos às empresas, e haverá mais imparidades para registar. O BCP não deixará de ser um banco muito exposto a uma economia com um fraco crescimento e vulnerável ao aumento dos juros da República. Mas está agora mais bem preparado para lidar com esse cenário, que ainda assim vai sendo menos adverso.
Mesmo que seja um "quase regresso à normalidade" já será bom. Ajudará o país a aproximar-se desse estado.
No longo processo de recuperação dos excessos e desmandos do passado na concessão de crédito, e de digestão dos efeitos da grave crise económica que o país atravessou, aguardamos a cada ano poder chegar à Boa Esperança. Este aumento de capital do BCP pode deixar-nos mais perto.
Com o dinheiro que receberá de accionistas e investidores, o BCP será capaz de reembolsar a ajuda pública, como já fez o BPI. É uma libertação. Do abraço do Estado e dos elevados juros que os amargos CoCos custavam a cada ano (65 milhões). Sem eles, o pagamento de dividendos deixa de ser uma impossibilidade. Na apresentação que fará aos investidores, divulgada na quinta-feira, o banco acena já com essa cenoura, falando do "potencial regresso" à remuneração dos accionistas em 2019. Para haver dividendos tem de haver lucros, e o banco diz que os haverá, equivalentes a 10% dos capitais próprios.
Na apresentação é usada por mais de uma vez a expressão "regresso à normalidade". É sintomático que o banco a use. Desde 2008 que o BCP, e o resto do sector, vive em modo de crise. O banco passou por uma reestruturação, reduziu funcionários, fechou balcões, cortou operações. Crise, crise, mais crise. Parte dela auto-infligida. E muitos investidores nunca perdoarão o que lhes aconteceu. Mas o banco vê uma nova fase no horizonte.
Este artigo não é uma recomendação de investimento. Essa é uma avaliação que cabe a cada um. A incerteza é, cada vez mais, o prato do dia. Os riscos do mercado accionista não são menores.
O crédito malparado continua a ser muito elevado, sobretudo nos empréstimos às empresas, e haverá mais imparidades para registar. O BCP não deixará de ser um banco muito exposto a uma economia com um fraco crescimento e vulnerável ao aumento dos juros da República. Mas está agora mais bem preparado para lidar com esse cenário, que ainda assim vai sendo menos adverso.
Mesmo que seja um "quase regresso à normalidade" já será bom. Ajudará o país a aproximar-se desse estado.
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