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Diz que é uma espécie de Brexit

A demissão de David Davis, o ministro do Brexit, e de Boris Johnson, ministro dos Negócios Estrangeiros, significa que muito provavelmente vingará uma solução em que o Reino Unido fica com um pé fora e outro dentro da União Europeia. Como projecto político, a saída do Reino Unido pode seduzir uma parte importante do eleitorado, mas do ponto de vista económico tem custos muito elevados.

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Demasiado elevados se isso acontecer sem o país garantir o acesso ao mercado único europeu.

O Brexit significa já perda de negócio e perda de empregos. Nos últimos meses, a pressão dos lóbis da indústria britânica intensificou-se, e deu frutos. A proposta que vingou da reunião realizada na residência de campo da primeira-ministra em Chequers representa uma opção clara pelo Brexit suave, com o Reino Unido a manter-se ligado ao mercado europeu. Daí a demissão dos dois ministros, porque o compromisso implica abdicar de soberania.

A decisão vai aumentar a contestação a Theresa May dentro do Partido Conservador e nesse sentido fragiliza-a. Tendo em conta que alterar a liderança a menos de oito meses do momento do Brexit poderia ser suicidário, a sua continuidade pode, só por aí, estar assegurada. A sobrevivência da primeira-ministra terá a vantagem da clarificação. A saída "soft" é agora o caminho inequívoco. Os nomes escolhidos para substituir  os ministros que se demitiram vão no mesmo sentido.

A clarificação vem num momento crucial para permitir um rumo mais lesto nas negociações. Chegar ao fim sem um acordo é um desfecho que nenhuma das partes deseja, porque não é bom para nenhuma delas. Mas é pior ainda para o Reino Unido.

A saída de cena de David Davis, e em particular de Boris Johnson, também servirá de desbloqueador. A demissão do ministro dos Negócios Estrangeiros foi saudada, sem pudor, em Bruxelas ou Berlim. Só isso ajudará às negociações, da mesma forma que as relações entre o Eurogrupo e o governo grego melhoraram depois de Varoufakis se demitir.

No fim teremos provavelmente um Reino Unido no mercado único, e por isso sujeito às regras e decisões da União Europeia. Um Brexit parcial, que é o que mais convém à União Europeia e a Portugal, que tem dificuldade em desviar investimento do Reino Unido e sairia a perder num cenário de entropia nas relações comerciais.


P.S.: A partir desta quarta-feira a opinião do Negócios passa a contar como uma nova rubrica, o Deans’ Corner, que junta os responsáveis das principais escolas de Negócios portuguesas. Clara Raposo, Daniel Traça, José Paulo Esperança e Ramon O’Callaghan vão partilhar com os leitores do Negócios a sua visão sobre os grandes temas da actualidade nacional e internacional, bem como as grandes tendências da economia e gestão. 



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