Opinião
Um despertar para a vida selvagem
A Convenção sobre a Conservação das Espécies Migratórias pertencentes à Fauna Selvagem define políticas globais de modo a garantir que os animais possam movimentar-se livremente através das fronteiras internacionais.
O Fundo Mundial para a Vida Selvagem publicou recentemente o relatório Living Planet Report 2014, que traz algumas notícias alarmantes: os números da vida selvagem caíram para metade nas últimas quatro décadas. Em resposta ao crescente número de espécies ameaçadas pela destruição dos habitats, pela caça furtiva, poluição e alterações climáticas, representantes de governos de todo o mundo reuniram-se em Quito, no Equador, para determinarem o destino de quase três dúzias de espécies [tendo aprovado uma lista de 31 espécies migratórias ameaçadas a nível mundial] e para negociarem novas medidas no sentido de salvaguardarem muitas mais.
Mais de 120 países participaram na Conferência das Partes (COP-11) da Convenção sobre a Conservação das Espécies Migratórias pertencentes à Fauna Selvagem (CMS), onde decidiram dar maior protecção a espécies icónicas, como o urso polar, o leão africano e vários tipos de tubarões, incluindo o tubarão-martelo.
Na qualidade de espécies migratórias, estes animais movimentam-se ao longo de fronteiras internacionais. Isso significa que a sua sobrevivência depende da cooperação internacional. Os países signatários da CMS dispõem-se a considerar a adopção de resoluções destinadas a conter uma série de ameaças à vida selvagem migratória, incluindo o estabelecimento de orientações mais estritas quanto à localização de turbinas eólicas, comprometendo-se também a intensificar os esforços no sentido de restringir a proliferação de detritos marinhos.
Os legisladores estão cada vez mais conscientes de que a fauna selvagem pode trazer significativos benefícios económicos, com muitas nações – incluindo a maioria dos Pequenos Estados Insulares em Desenvolvimento e muitos países em desenvolvimento – a dependerem fortemente da vida selvagem para gerarem receitas no turismo. A título de exemplo, a indústria mundial de mergulho vale mais de 4 mil milhões de dólares, e só a indústria de mergulho para observar tubarões rende 42,2 milhões de dólares por ano às Fiji, 18 milhões à República de Palau e 38,6 milhões às Maldivas.
Em solo mais seco, um estudo levado a cabo pelo United States Fish and Wildlife Service concluiu que os observadores de aves contribuem anualmente com 32 mil milhões de dólares para a economia norte-americana, e que os safaris no Quénia geram perto de mil milhões de dólares de receitas anuais.
A representação sem precedentes de países de todo o mundo nesta conferência da CMS reflecte a crescente consciencialização para o facto de a protecção da vida selvagem ser uma responsabilidade de todos e que as ameaças à fauna selvagem podem ser resolvidas de forma mais eficaz através de uma cooperação à escala global.
A Convenção sobre a Conservação das Espécies Migratórias pertencentes à Fauna Selvagem define políticas globais de modo a garantir que os animais possam movimentar-se livremente através das fronteiras internacionais. O tratado também estabelece regras e orientações que reduzem as ameaças à vida selvagem internacional, como capturas acessórias, caça ilegal, armadilhas, veneno e cativeiro, e protege directamente algumas das mais raras espécies do planeta.
Sentimo-nos incentivados pelo facto de os países estarem a ver o potencial da CMS e a perceber o importante papel que a Convenção pode desempenhar na promoção de políticas internacionais em matéria de crimes contra a vida selvagem, detritos marinhos e energia renovável. Os acordos internacionais, como o da CMS, operam em nome dos cidadãos e comunidades de todo o mundo que desejam preservar e proteger a nossa herança natural. São uma expressão do nosso compromisso partilhado de que a prossecução do desenvolvimento da humanidade não pode ser realizada às custas do nosso mundo natural.
Achim Steiner é director executivo do Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (UNEP) e sub-secretário geral da ONU. Bradnee Chambers é secretário executivo da Convenção sobre a Conservação das Espécies Migratórias pertencentes à Fauna Selvagem (CMS).
Direitos de autor: Project Syndicate, 2014.
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Tradução: Carla Pedro