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21 de Fevereiro de 2018 às 11:00

Reduzir o fosso de género no sector tecnológico

Há uma percepção errada, por parte de quem procura emprego, de que as oportunidades para as mulheres no sector tecnológico só existem para aquelas que têm experiência em programação e engenharia.

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Sou uma mulher e tenho orgulho em dizer que trabalho em tecnologia. Mas também reconheço que a conjugação desses dois factos faz com que pertença a uma minoria.

 

Segundo o mais recente relatório do Fórum Económico Mundial sobre Desigualdade global de género, os progressos rumo à paridade entre os sexos foram interrompidos em 2017. Pela primeira vez desde 2006, quando o estudo anual sobre o emprego foi lançado, a percentagem de mulheres activas na maioria das indústrias retrocedeu. Este recuo foi especialmente acentuado no caso das mulheres que trabalham na área do desenvolvimento de software e tecnologia.

 

A tecnologia é um motor essencial para a mudança social e económica e, em todo o mundo, mulheres como eu estão a transformar empresas, indústrias e comunidades. Lamentavelmente, as nossas posições continuam a ser uma pequena fracção na força de trabalho total. Não só precisamos de mais mulheres no sector tecnológico, como também precisamos claramente de refocalizar a energia na melhoria da igualdade de género na economia global.

 

Entre as muitas razões pelas quais se deve levar este tema a sério está uma que qualquer executivo deveria compreender: empregar mulheres é bom para o negócio. Em 2013, a Comissão Europeia estimou que encorajar mais mulheres a integrar o sector tecnológico poderia estimular o PIB da UE em 9 mil milhões de euros por ano.

 

Da mesma forma, um relatório de 2014 do Credit Suisse concluiu que as empresas com maior diversidade de género nos seus conselhos de administração tinham um melhor desempenho no mercado bolsista, com maiores avaliações e uma maior distribuição de dividendos.

 

E no entanto, apesar desta lógica económica da paridade de género, as mulheres continuam a estar subrepresentadas nas empresas tecnológicas. Em toda a União Europeia, por exemplo, entre as mulheres com 30 anos que se licenciaram em Tecnologias de Informação e Comunicação (TIC), apenas 20% continuam a trabalhar no ramo. Aos 45 anos, já só restam 9%. Neste sentido, as TIC estão a cair nas mesmas armadilhas que as indústrias mais antigas e já estabelecidas, que durante muito tempo não foram capazes de fazer o suficiente para criarem um ambiente em que as mulheres possam prosperar.

 

Para se lidar com este desequilíbrio entre os homens e as mulheres, é imperativo que as organizações criem ambientes que incentivem a diversidade a todos os níveis. Os executivos devem esforçar-se por criar empresas onde as mulheres possam de facto trabalhar, o que significa, antes de mais, implementar políticas que não façam discriminação em matéria de contratação e dos pacotes de benefícios, e eliminar os obstáculos com que as mulheres se deparam no trabalho.

 

Mas também significa criar uma estrutura plana e promover uma cultura de cuidados e confiança através da qual as mulheres possam sobressair, onde as ideias possam surgir de qualquer lado e sejam valorizadas. Infelizmente, poucas empresas se focam nesta área.

 

Há uma percepção errada, por parte de quem procura emprego, de que as oportunidades para as mulheres no sector tecnológico só existem para aquelas que têm experiência em programação e engenharia. É certo que as empresas tecnológicas precisam de mulheres com estas competências, mas também precisam de mulheres com conhecimentos periciais noutras áreas, como marketing e finanças. E, uma vez que ter mais mulheres a desempenhar papéis não meramente técnicos pode ajudar impulsionar o empenho feminino em todas as áreas da empresa, seduzindo-as também para funções técnicas, os líderes das companhias devem assegurar que a diversidade vai além dos silos departamentais das funções.

 

Um dos comentários que oiço mais frequentemente por parte das mulheres que se mostram relutantes em entrar no sector tecnológico é que esta indústria não tem modelos visíveis. Por isso eu, enquanto mulher que lidera no sector tecnológico, considero que uma das minhas responsabilidades é partilhar a minha história e apoiar, autonomizar e inspirar outras mulheres, ao mesmo tempo que garanto que há mulheres talentosas que vêem esta indústria como uma opção atractiva.

 

Uma das coisas que a minha empresa tem estado a fazer neste sentido é participar em iniciativas tecnológicas exclusivamente dirigidas a mulheres, incluindo um novo prémio que reconhece as mulheres bem sucedidas neste domínio. O objectivo dos Technology Playmaker Awards é capacitar o talento feminino e posicionar as mulheres de modo a liderarem esta indústria no futuro.

 

A minha empresa fez também uma parceria com a Universidade de Oxford e com a Universidade Técnica de Delft para criar bolsas de estudo para as mulheres na área tecnológica; criou oportunidades de mentoria para as mulheres no ramo da tecnologia; e apoia programas de formação em competências digitais na Europa.

 

A Booking.com não está sozinha nisto; muitas outras empresas de todo o sector tecnológico estão a tomar medidas similares. Ellyn Shook, directora de Liderança & Recursos Humanos da Accenture, anunciou recentemente que em 2025 a força de trabalho da empresa será composta em 50% por mulheres. E a Salesforce, empresa norte-americana de computação na nuvem, lançou recentemente o programa "mães na tecnologia" ("mums in tech") para trazer para esta indústria mais mães em idade activa. 

Estão a ser realizados grandes progressos para reduzir o fosso de género no sector tecnológico, mas, tal como acontece com muitas outras indústrias, a paridade de género continua a ter ainda um longo caminho a percorrer. Os líderes de todo o sector devem unir-se na defesa e na promoção da inclusão. Só quando o fizermos é que as nossas organizações estarão prontas para atrair e reter talento de topo feminino, uma tendência que beneficiará tanto os conselhos de administração como as bases.

 

Gillian Tans é CEO da Booking.com.

 

Direitos de autor: Project Syndicate, 2018.
www.project-syndicate.org

Tradução: Carla Pedro 

 

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