Opinião
Uma nova era de inovação na saúde
A nova onda de inovação pode ser atribuída a três factores fundamentais: a capacidade de personalizar a terapia, a capacidade de colocar os medicamentos no mercado mais depressa, e melhorias ao nível do envolvimento dos pacientes.
Estamos a experienciar uma nova onda de inovação na área da saúde – uma que promete criar os sistemas de saúde mais inteligentes, mais conectados, e mais eficientes que o mundo já viu. Tecnologias e tratamentos que mudam as regras do jogo estão a transformar o exercício da medicina, alterando dramaticamente a experiência do paciente, e criando condições para maior inovação.
A prova está nos números. No ano passado, 61 novas drogas foram introduzidas em todo o mundo, um recorde, comparando com a média de 34 na década anterior. Mais de 40% desses tratamentos foram para doenças raras ou enfermidades difíceis de tratar, incluindo a hepatite C, o meningococo B, e o melanoma metastático. E outras descobertas estão no horizonte. É estimado que cerca de 70% das drogas actualmente em desenvolvimento em toda a indústria sejam potencialmente de tratamentos "de primeira linha", ou seja, que usam um mecanismo de acção completamente novo contra a doença.
A nova onda de inovação pode ser atribuída a três factores fundamentais: a capacidade de personalizar a terapia, a capacidade de colocar os medicamentos no mercado mais depressa, e melhorias ao nível do envolvimento dos pacientes.
Primeiro, avanços enormes no nosso conhecimento de genómica – especificamente, na forma como as doenças se manifestam e se desenvolvem no corpo a nível genético – estão a melhorar a nossa capacidade e identificar a doença a cada estágio e melhorar a experiência do paciente. Os marcadores genéticos, por exemplo, podem indicar que pacientes poderão provavelmente beneficiar de uma determinada droga e, assim sendo, contribuir para melhorar os resultamos e evitar que os pacientes sofram os efeitos secundários potencialmente dolorosos de tratamentos que têm poucas hipóteses de funcionar.
Para pacientes nas primeiras fases de cancro da mama, os marcadores genéticos mostram qual a probabilidade de a quimioterapia ter ou não impacto, ou se a terapia de hormonas por si só é uma melhor opção. Uma nova droga para cancro do pulmão desenvolvida pela minha empresa, a Novartis, é eficaz apenas em pacientes com cancro do pulmão de não-pequenas células, que têm uma mutação genética particular.
O uso do conhecimento na área da genómica para melhorar os cuidados de saúde está apenas a começar. Uma área promissora para a investigação é a da técnica CRISPR – uma técnica inovadora que permite destruir, reparar ou substituir os genes que causam a doença.
À medida que o nosso entendimento das características da doença de determinado paciente se tornam cada vez mais precisas, os tratamentos tornar-se-ão cada vez mais eficazes e reduzirão os riscos de efeitos secundários.
Mais, o aprofundar do nosso conhecimento sobre as doenças está a impulsionar a eficiência do processo de desenvolvimento dos fármacos, tornando possível introduzir inovações no mercado mais rápido. Por exemplo, os testes genéticos estão a ser usados para pré-seleccionar candidatos para testes clínicos, reduzindo os tempos de recrutamento.
Com esta abordagem, as investigações podem começar em apenas três semanas, comparando com as 34 semanas, em média, para testes clínicos standard. Acrescente-se a isso a capacidade de analisar dados mais depressa e tomar decisões mais precisas sobre dosagem, e o período dos testes clínicos diminui consideravelmente.
Finalmente, os dados em tempo real e o emergência de ferramentas tecnológicas têm o potencial para melhorar o envolvimento e a adesão do paciente, especialmente entre aqueles que têm enfermidades crónicas causadas por doenças não transmissíveis (DNT). À medida que a população envelhece, a incidência de DNT é expectável que aumente, totalizando 52 milhões de mortes anualmente em 2030. Mais de 80% de mortes causadas por DNT são o resultado de condições crónicas, como doenças cardiovasculares ou respiratórias, cancro ou diabetes.
No presente quadro, o incumprimento das prescrições médicas é um grande problema no tratamento do DNT. Por exemplo, os pacientes diabéticos nos EUA com um menor nível de cumprimento de indicações médicas têm uma probabilidade de 30% de virem a ser hospitalizados, contra um risco de 13% nos pacientes que tendem a cumprir melhor as prescrições médicas. Isso acarreta grandes custos para o sistema de saúde – cerca de 200 mil milhões de dólares nos EUA e 125 mil milhões de euros na União Europeia (133 mil milhões de dólares) todos os anos. Tecnologias que incentivam os pacientes a cuidar da sua saúde e potenciam uma maior adesão às prescrições de medicação têm o potencial de melhorar a gestão de doenças, reduzir a hospitalização e diminuir custos.
Hoje, os avanços transformadores na área da saúde devem muito à investigação na área da genómica, à disponibilidade de dados que influenciam a tomada de decisão em tempo real, de terapias mais direccionadas e personalizadas, e de sistemas de distribuição mais inteligentes e conectados. Mas isto é só o início. Mais inovações, impulsionadas pela convergência entre a ciência e a tecnologia, podem ser esperadas, especialmente à medida que agentes não convencionais entram no sector da saúde. Neste processo, parcerias entre empresas na área da saúde e tecnológicas serão cada vez mais importantes.
É um momento excitante para o sector da saúde, com muitas inovações disruptivas no horizonte. Para pacientes e provedores, isto são muito boas notícias.
Joseph Jimenez é CEO da Novartis.
Direitos de autor: Project Syndicate, 2015.
www.project-syndicate.org
Tradução de Inês F. Alves