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Startup portuguesa lidera projeto de 8 milhões para unir dados de saúde de cidadãos da UE

O projeto i2X é liderado por uma startup portuguesa e está a arrancar com um sistema tecnológico que visa a partilha de dados de cidadãos entre países, em caso de necessidade médica. A Comissão Europeia financia o projeto.

Sistemas europeu já permitem a partilha de receitas médicas, com estas a serem passadas num país e levantadas outro. Objetivo é uma maior partilha de informação médica entre países.
07 de Abril de 2025 às 07:00
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A startup portuguesa UpHill está a liderar um consórcio europeu com o objetivo de ligar dados de saúde dos cidadãos na União Europeia. O projeto de oito milhões de euros é cofinanciado pela Comissão Europeia, e junta 38 entidades parceiras de 12 Estados-Membros

O projeto i2X é o primeiro de implementação efetiva de interligação de sistemas de saúde. Ao Negócios, Henrique Martins, coordenador do projeto a arrancar em Portugal, diz que o i2X vai "transformar os sistemas de informação dos hospitais, centros de saúde e de grandes organizações" destes países.

Atualmente já existe a circulação de receitas eletrónicas, em que uma receita passada por um médico em Portugal pode ser levantada em França, por exemplo. O objetivo é atingir uma maior partilha de informação.

"Em Portugal e na Europa existe um sistema de saúde fracionado, em que as pessoas procuram cuidados médicos em vários locais e a sua informação acaba espalhada e é difícil que ela circule entre sistemas", explica o responsável pelo consórcio.

Questionado sobre a própria fragmentação do sistema português entre público e privado, e a razão de um consórcio português estar a aplicar a ligação entre sistemas dentro da UE, Henrique Martins admite que os Serviços Partilhados do Ministério da Saúde estão a trabalhar numa plataforma que liga os hospitais e centros de saúde públicos aos privados. E o coordenador vai mais longe: "Os próprios Serviços Partilhados estão interessados nesta iniciativa do i2X, estamos a ver se podem ser 'associative partners'. No caso português interessam as ligações que se venham a estabelecer entre todos, sobretudo entre público e privado, porque ainda não estão terminadas". 

Conforme explica, terá de existir uma adaptação ao formato europeu, em que existirá uma forma padrão para que as notas de alta, exames de laboratório, relatórios de imagens e as próprias imagens cheguem ao doente e à plataforma criada. É através de Inteligência Artificial "e da nova vaga tecnológica" que a plataforma será criada, uma vez que estão em causa vários idiomas, e também aproximar práticas. 

A Europa tem um sistema de saúde fracionado, em que as pessoas procuram cuidados médicos em vários locais e a sua informação acaba espalhada e é difícil que ela circule entre sistemas.Henrique Martins
Coordenador do projeto i2X

A ULS de Coimbra e o Sesaram (Madeira) são os parceiros portugueses da iniciativa, apresentando-se como duas realidades distantes. A Madeira, por exemplo, insere-se a vertente transfronteiriça, uma vez que existe uma comunidade estrangeira que viaja constantemente.

Já Eduardo Freire Rodrigues, CEO da UpHill, indica ao Negócios que a "realidade tecnológica de hoje é de sistemas hiperlocais, com estratégias de pouca abertura de dados em saúde. Isto é algo antagónico à visão da Comissão Europeia, que quer um sistema que garanta a continuidade de cuidados e equalizar as necessidades entre países". O propósito deste novo sistema prende-se então com a questão transfronteiriça, em que os cidadãos europeus são livres de circular, mas também por "uma questão de resiliência e de especialização, especialmente no contexto atual em que há perigos geopolíticos". 

O CEO da startup que está a liderar o consórcio adianta que a solução de interoperabilidade, desenhada a pedido da Comissão Europeia, apoia a necessidade de continuidade de cuidados, mas que os dados pertencem sempre aos doentes. A solução é pensada numa lógica de "turismo de saúde e em viagens normais e diárias, por exemplo na Europa Central".

O formato do sistema europeu está também pensado para "poupar" os profissionais de saúde, num momento em que se continua a falar do burnout e excesso de trabalho. "Um dos grandes desígnios deste projeto é, através da Inteligência Artificial e outras técnicas tecnológicas mais avançadas, arranjar formas automáticas de chegar à estruturação dos dados para que possam ser partilhados a nível europeu, sem que haja demasiada interação manual médica", adianta Eduardo Rodrigues. 

8milhões 
O projeto i2X está a ser liderado por uma startup portuguesa e é financiado pela Comissão Europeia. Projeto está avaliado em cerca de oito milhões de euros e vai desenrolar-se ao longo dos próximos quatro anos com 35 projetos-piloto.

Por sua vez, o coordenador Henrique Martins explica que "não vamos querer uma rede só intergovernamental, mas também entre instituições. A melhor comparação em que penso é o MB Way, em que se envia dinheiro e é instantâneo , e até já se pode fazer transferências para outros países"

"Vai ser de um dia para o outro? Não, vai ser progressivo. Estamos agora com 12 Estados-membros envolvidos, mas vamos continuar a crescer e chegar a mais, tal como só vamos impactar três milhões de cidadãos com este arranque", diz Henrique Martins. Também o número de parceiros vai aumentar, com o coordenador a admitir a entrada de 11 novas entidades no projeto nos primeiros três meses e uma nova expansão no espaço de um ano.

Eduardo Rodrigues completa: "o objetivo do projeto não é o 'roll-out' a 100%. É a demonstração em cada um destes Estados-membros para diversos contextos clínicos e tipos de dados, da possibilidade de utilização do sistema. No fundo, é uma fase inicial do 'roll-out'". 

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