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01 de Janeiro de 2016 às 11:00

Como combater o terrorismo jihadista

Uma ideia brilha com clareza: é um erro flagrante fazer o que os terroristas querem que façamos.

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As sociedades abertas estão sempre ameaçadas. Isto é especialmente verdade nos Estados Unidos e na Europa de hoje devido aos ataques terroristas em Paris e em outros locais e à forma como a América e a Europa, particularmente a França, reagiram a eles.

Os terroristas jihadistas, como o Estado Islâmico (ISIS) e a Al Qaeda, descobriram o calcanhar de Aquiles das nossas sociedades ocidentais: o medo da morte. Ao alimentar o medo através de ataques terríveis e vídeos macabros, os promotores do ISIS despertaram e ampliaram esse medo, levando pessoas até agora sensatas nas sociedades abertas a abandonar a razão.

Os cientistas descobriram que a emoção é uma componente essencial do raciocínio humano. Esta descoberta explica porque é que o terrorismo jihadista representa uma tão grande ameaça às nossas sociedades: o medo da morte leva-nos a pensar – e a comportarmo-nos – de forma irracional.

A neurociência confirma simplesmente o que a experiência há muito demonstrou: quando tememos pela nossa vida, as emoções tomam o controlo dos nossos pensamentos e acções, e torna-se difícil fazer julgamentos racionais. O medo activa uma parte mais antiga e primitiva do cérebro do que aquela que formula e sustenta os valores e princípios abstractos de uma sociedade aberta.

A resposta ao medo é, desta forma, uma constante ameaça a uma sociedade aberta. Uma geração que herdou dos seus pais uma sociedade aberta não vai entender o que é necessário para a manter até que seja testada e aprenda a evitar que o medo corrompa a razão. O terrorismo jihadista é apenas o último exemplo. O medo de uma guerra nuclear testou a última geração e o medo do comunismo e fascismo testou a minha geração.

O objectivo final dos terroristas jihadistas é convencer os jovens muçulmanos em todo o mundo de que não existe alternativa ao terrorismo. E os ataques terroristas são a forma de atingir esse objectivo, porque o medo da morte vai despertar e ampliar os sentimentos anti-muçulmanos latentes na Europa e na América, levando a população não muçulmana a tratar todos os muçulmanos como potenciais atacantes.

E é exactamente o que está a acontecer. A reacção histérica anti-muçulmana ao terrorismo está a gerar medo e ressentimento entre os muçulmanos que vivem na Europa e na América. As gerações mais velhas reagem com medo, as mais jovens com ressentimento; o resultado é um terreno fértil para potenciais terroristas. Este é um processo mutuamente auto-reforçado e reflexivo.

Como é que isto pode ser travado e revertido? Abandonar os valores e os princípios subjacentes às sociedades abertas e ceder a um impulso anti-muçulmano ditado pelo medo não é, certamente, a resposta, embora seja difícil resistir à tentação. Vivi isto pessoalmente quando assisti ao último debate presidencial republicano; só consegui conter-me relembrando que deve ser irracional seguir os desejos dos nossos inimigos.

Argumentos abstractos não chegam para afastar o perigo do terrorismo jihadista. Precisamos de uma estratégia para o combater. O desafio é amplificado pelo facto de o fenómeno jihadista estar connosco há mais de uma geração. Compreendê-lo pode ser impossível mas devemos tentar.

Consideremos o conflito sírio, a causa da crise migratória que representa uma ameaça existencial à União Europeia tal como a conhecemos. Se fosse resolvido, o mundo estaria numa melhor situação.

É importante reconhecer que o ISIS está a operar numa posição de fraqueza. Ainda que esteja a espalhar o medo no mundo, o seu domínio interno está a enfraquecer. O Conselho de Segurança das Nações Unidas adoptou unanimemente uma resolução contra ele e os seus líderes estão conscientes de que os seus dias no Iraque e na Síria estão contados.

Claro, as perspectivas para a Síria continuam altamente incertas e o conflito não pode ser entendido ou abordado de forma isolada. Mas uma ideia brilha com clareza: é um erro flagrante fazer o que os terroristas querem que façamos. É por isso que, com 2016 a começar, devemos reafirmar o nosso compromisso com os princípios de uma sociedade aberta e resistir ao canto da sereia, como o de Donald Trump e Ted Cruz, por mais difícil que isso possa ser.

 

George Soros é presidente do Soros Fund Management e da Open Society Foundations.

 

Direitos de Autor: Project Syndicate, 2015.
www.project-syndicate.org

Tradução: Raquel Godinho

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