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07 de Dezembro de 2015 às 21:00

A ligação francesa entre o clima e terror

Desde os ataques terroristas sangrentos de 13 de Novembro em Paris, a Cidade Luz tem estado praticamente sob lei marcial. Neste contexto submisso e desafiante, líderes mundiais reúnem-se na Conferência do Clima das Nações Unidas para discutir um novo acordo para reduzir as emissões de gases com efeito de estufa. Desestabilizar as conversações poderia estar na agenda dos terroristas?

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Parece certamente possível. Afinal, as condições ambientais severas nas regiões do Médio Oriente e do Norte de África, na região do Sahel, contribuem para o sentimento de desespero que alimenta do extremismo islâmico. Atendendo a isto, levar a cabo os ataques de forma a desestabilizar os esforços para melhorar estas condições – enquanto se avançam com outros objectivos dos terroristas, claro – poderia configurar-se como uma estratégia "vencedora".

 

A situação no Médio Oriente e no Sahel é certamente séria e urgente, com a rápida desertificação a devastar a economia pastoril e o sustento dos agricultores, dos pastores, dos nómadas, e daqueles que dependem destes. Esta combinação de degradação ambiental e económica criou condições férteis para movimentos islamitas criminosos, incluindo o Boko Haram na Nigéria, o al-Shabaad na Somália e no Quénia, e o Estado Islâmico no Iraque e na Síria. Onde as alterações climáticas ameaçam destruir profundamente o ambiente, os fanáticos uniram-se para destruir a civilização.

 

Estejamos certos, as alterações climáticas são sem dúvidas a causa primordial do extremismo islâmico. Economias falhadas, e ditaduras seculares brutais, juntamente com características étnicas profundamente enraizadas e contendas religiosas, potenciaram uma combinação volátil de medo, instabilidade e fúria. Mas ninguém deve duvidar de que o contexto do fanatismo tem sido sustentado pelas devastadoras condições ambientais que agora prevalecem em muitas zonas do Médio Oriente e do Sahel.

 

E essas condições deverão deteriorar-se no futuro, à medida que o rápido crescimento da população coloca ainda maior pressão sobre os recursos. O aumento acentuado das emissões de dióxido de carbono não foi gerado somente pela industrialização: as Nações Unidas esperam que a população mundial atinja os 9,7 mil milhões de pessoas em 2050 e os 11,2 mil milhões em 2100.

 

Esse crescimento vai ter lugar desproporcionalmente no mundo muçulmano, incluindo no Médio Oriente e no Sahel. De facto, os países com as taxas mais altas de fertilidade são predominantemente muçulmanos, liderados pelo Niger, com 7,6 nascimentos por mulher, seguido pela Somália, com 6,7 e Chade com 6. De acordo com o Pew Research Center, o número de muçulmanos no mundo vai quase ser equivalente ao de cristãos em 2070, e o Islão tornar-se-á a maior religião do mundo em 2100.

 

O rápido crescimento da população em países onde o ambiente não supre actualmente as necessidades das pessoas, e onde as economias mostram sinais insuficientes de virem a criar novas oportunidades de emprego, desenvolve-se um ambiente fértil para o fanatismo. 

 

Consideremos o Mali, onde os militantes islamitas atacaram um hotel cheio de estrangeiros apenas uma semana depois dos ataques em Paris. As secas e a desertificação exacerbaram a pobreza – o PIB per capita do país é de apenas 765 dólares, colocando-o na 168º posição a nível mundial – e as condições de vida extremamente arriscadas reflectem-se na sétima maior taxa de mortalidade infantil do mundo: 123 em cada 1000 crianças não chegam ao quinto aniversário.

 

Em sociedades tão pobres, os sistemas de educação inadequados deixam as pessoas sem o conhecimento que precisam para melhorar a sua situação, como limitar o número de vezes que engravidam ou tirar partido de oportunidades que aumentem a produtividade económica. Acresce-se a isto um fornecimento de energia que é tudo menos fiável, muito menos limpa, e a gravidade da situação torna-se óbvia. Sob estas condições, não deveria ser surpreendente que o terrorismo islamita seja uma chaga persistente.

 

Resumindo, muito do Médio Oriente e do Sahel estão presos num ciclo vicioso de degradação ambiental, insucesso económico e islamismo extremista. A questão é como quebrar o ciclo.

 

A Cimeira do Clima de Paris será provavelmente uma batalha diplomática entre países por garantias que suportem o cumprimento dos seus compromissos para a mitigação e adaptação às alterações climáticas. Infelizmente, a concretização dos compromissos que serão feitos – particularmente em terras devastadas como na Somália, norte da Nigéria, e na província de Anbar, no Iraque – é inteiramente incerta.

 

O factor mais importante num esforço de longo prazo para salvar as sociedades no Médio Oriente e no Sahel da ruina ambiental e económica – com grandes implicações no combate ao extremismo islâmico – não será discutia em Paris. Esse factor é a Educação. Afinal, para melhorar as suas condições económicas e preservar o ambiente, as pessoas precisam de aceder a informação sobre métodos contraceptivos, agricultura moderna, práticas de culinária, e muito mais. E para melhorar as suas perspectivas económicas, é necessário que tenham o conhecimento e as capacidades que os empregadores procuram.

 

O ex-primeiro ministro britânico, Gordon Brown, enviado especial das Nações Unidas para a Educação Global, está a trabalhar de forma incansável para promover o acesso à educação entre os milhões de refugiados na região. É tempo de mais actores globais apoiarem este esforço, para que possa ser ampliado por todo o Médio Oriente e pelo Sahel.

 

A Educação é essencial para dar às populações constrangidas esperança de um futuro melhor. E a esperança é fundamental para contrariar o fascínio pelo extremismo, em todas as suas formas.

 

Yuriko Koike é ex-ministra da Defesa e conselheira de segurança nacional, foi presidente do Concelho Geral do Partido Democrático Liberal do Japão e é actualmente deputada do Parlamento japonês.

Direitos de Autor: Project Syndicate, 2015.

www.project-syndicate.org

Tradução: Inês Alves

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