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09 de Dezembro de 2012 às 23:30

A equipa de sonho da China

A recente transição de liderança na China foi amplamente considerada como um triunfo para os mais conservadores e um revés para a causa da reforma – uma caracterização que reforçou o pessimismo da visão ocidental em relação à China. Na verdade, nada poderia estar mais longe da realidade.

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Xi Jinping e Li Keqiang – as duas autoridades máximas do novo conselho governativo chinês (o Comité Permanente de Politburo) – têm um alto nível de educação, viajaram muito e são pensadores sofisticados com uma grande bagagem para enfrentarem os diversos desafios que a China enfrenta. Na sua condição de líderes da chamada Quinta Geração dão continuidade ao progresso constante em matéria de competência que caracterizou cada uma das transições de liderança na China desde o surgimento de Deng Xiaoping no final dos anos 70. 

Embora seja completamente prematuro julgar o estilo e o rumo que os novos líderes da China vão tomar, vale a pena sublinhar três pistas iniciais. Primeiro, a assunção de Xi é mais completa do que em transições anteriores. Ao tomar imediatamente as rédeas do Partido Comunista da China (PCC) e da Comissão Militar Central, tem mais possibilidades de imprimir a sua marca pessoal nas políticas do que os seus antecessores tiveram quando chegaram ao poder. 

Sim, a China governa através do consenso do Comité Permanente. Mas Xi está bem posicionado para liderar a estratégia de um organismo encarregue de tomar decisões, que hoje tem um tamanho menor (passou de nove a sete membros). Além disso, durante muito tempo mostrou-se a favor de uma estratégia científica mais amiga do mercado, capaz de impulsionar o crescimento económico, que será vital para o futuro da China. 

Em segundo lugar, Li Keqiang – que será primeiro-ministro - pode ser a grande surpresa na nova equipa de liderança. Ao contrário do actual primeiro-ministro, Wen Jiabao, que ocupou o terceiro lugar na cadeia de comando nos últimos dez anos, Li foi elevado a número dois, o que sugere um maior potencial para a partilha do poder entre o PCC e o governo, nas altas esferas da nova equipa da China. 

Com um doutoramento em Economia, Li, que liderou o importantíssimo "Pequeno Grupo de Líderes de Finanças e Economia do Comité Central", está especialmente preparado para liderar com a tão esperada transformação estrutural da economia chinesa. Tendo supervisionado o "China 2030" – um relatório extraordinário produzido recentemente pelo Banco Mundial e pelo Centro de Pesquisa para o Desenvolvimento da China – tem a capacidade necessária para entender perfeitamente o roteiro que a China deve seguir. A sua promoção pode ser um passo em frente depois de Wen, que enfatiza a retórica e a estratégia acima da implementação. 

Em terceiro lugar, e ao contrário do pensamento dominante no ocidente, Wang Qishan, um dos altos funcionários mais inteligentes e mais experientes da China, não foi relegado à obscuridade no seu novo cargo à frente da supervisão da “disciplina” no Comité Permanente. Wang tem uma experiência inestimável no sector financeiro, e teria sido lógico ele assumir responsabilidades semelhantes na nova equipa de liderança. Mas, sendo uma das sete pessoas mais importantes na hierarquia do Partido Comunista, poderá intervir em todas as questões económicas e financeiras, e assumir, ao mesmo tempo, a responsabilidade de lidar com um dos problemas mais difíceis da China – a corrupção. Conhecendo Wang há mais de 15 anos, tenho a sensação que ele está muito bem preparado para esta tarefa vital. 

Os outros membros do novo Comité Permanente trazem uma ampla gama de experiências e habilidades. Isto é especialmente válido no caso de Yu Zhengsheng e os dois Zhang, Dejiang e Gaoli, que provêm de postos hierárquicos em três dos centros urbanos mais poderosos e dinâmicos da China – Shanghai, Chongqing e Tianjin. O seu profundo conhecimento do papel fundamental da urbanização na condução do desenvolvimento económico será fundamental para ampliar a transformação estrutural que a China enfrenta agora. 

O ocidente não só subestima as capacidades dos novos líderes chineses, como também interpreta de forma equivocada o estado actual da economia do país que, ainda que não seja perfeita, não está a ser destruída pela crise nem necessita de uma solução rápida e desesperada. Na verdade, a China está a sair relativamente bem de uma nova queda global. Isso dá aos novos líderes liberdade de acção até ao Congresso Nacional Popular, em Março de 2013, para se concentrarem no desenvolvimento de tácticas para a implementação da sua agenda estratégica.   

Nada disto pretende minimizar os enormes desafios que a China enfrenta. Mas a estratégia não é o problema; o 12º Plano Quinquenal, a favor do aumento do consumo interno, estabelece-a claramente. A nova liderança deve focar-se no compromisso com esta estratégia e na sua implementação – nomeadamente através da promulgação de um conjunto de reformas audazes, especialmente as relacionadas com o sector dos serviços, segurança social e empresas estatais. Xi enfatiza que o "projecto de alto nível" das reformas adequa-se particularmente bem a esta agenda, assim como a estreita familiaridade de Li com o plano de acção inscrito no relatório "China 2030". 

Observadores ocidentais, focados nas recentes declarações públicas de Xi e Li, destacam a escassez de comentários a favor de reformas económicas e políticas. Mas o mesmo se poderia ter dito dos discursos iniciais de Deng, o líder mais reformista da China moderna. Como observa Ezra Vogel, em "Deng Xiaoping e a transformação da China", a primeira declaração pública de Deng depois da sua reabilitação política em 1976 foi: "o marxismo-leninismo e o pensamento de Mao Zedong constituem a ideologia orientadora do partido." 

Não foram palavras propriamente iluminadas – especialmente tendo em conta o que estava para vir. No entanto, Deng aproveitou o momento numa conjuntura crítica que se assemelha largamente à que enfrentam hoje Li e Xi. 

Como em qualquer transição de liderança num país, ninguém sabe ao certo se a nova administração estará à altura dos desafios que enfrenta. Desde a época de Deng, a China teve uma capacidade incrível para aproveitar as ocasiões e enfrentar os desafios de frente. A nova geração de líderes tem a capacidade e a experiência necessárias para a tarefa. Apesar dos preconceitos ocidentais, saberemos em breve se traduzem a estratégia em acção. 

Stephen S. Roach, membro da Universidade de Yale e ex-presidente do Morgan Stanley na Ásia, é o autor de "The Next Asia". 

© Project Syndicate, 2012.

www.project-syndicate.org

Tradução: Rita Faria

 

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