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A vista económica dos Alpes

A minha viagem deu-me evidências dos dados que mostram uma forte recuperação global em 2017. Essa recuperação é real e deverá continuar a ampliar-se e a incluir mais países - pelo menos por enquanto.

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Fiz recentemente uma viagem à Suíça - um país notável que tive a sorte de visitar muitas vezes nos últimos 40 anos. Além de ter desfrutado da viagem, encontrei uma perspectiva útil para reflectir sobre o estado do mundo e a sua vitalidade económica.

 

Além da sua riqueza - ou talvez por causa dela - a Suíça sempre me pareceu um país feliz. Enquanto passava algum tempo em Zurique, em 1994, experimentei pela primeira vez a alegria de nadar no rio e no lago da cidade. E, hoje em dia, é comum ver pessoas a fazer isso em muitas outras áreas urbanas, incluindo Basileia, onde as almas satisfeitas desfrutam do poderoso Reno.

 

Há pouco tempo ouvi dois suíços a debater se é melhor nadar em Zurique, Basileia ou na capital, Berna, com as suas águas brancas que fluem com rapidez. Em que outros sítios do mundo desenvolvido se pode desfrutar de prazeres tão acessíveis? Costumava achar engraçado o facto de muitos alemães considerarem a Suíça como o seu país ideal; com a idade, entendi o que eles queriam dizer.

 

Outra razão para admirar a Suíça é o seu sistema ferroviário surpreendente, que atravessa todos os recantos do país. Nesta ocasião, viajámos de comboio para as terras altas de Berna (Berner Oberland), tal como havia feito há quase 40 anos. À medida que fazíamos as ligações no tempo certo, e com facilidade, questionei-me porque é que tantos outros governos ocidentais consideraram o sector público incapaz de gerir um sistema ferroviário eficiente. O sistema suíço é a prova de como os gastos públicos podem beneficiar todos os cidadãos de um país.

 

Como alguém que esteve profundamente envolvido no projecto "northern powerhouse" do governo britânico, tenho em grande consideração o exemplo da Suíça. Além de tudo, reforça ainda mais a minha convicção de que o Reino Unido deve tornar as vias férreas de última geração uma prioridade, especialmente no norte, para ligar Manchester, Leeds, Liverpool, Sheffield, Newcastle e as suas áreas circundantes.

 

Naturalmente, a outros níveis, a experiência económica suíça e britânica não se assemelha em nada. Nos últimos anos, o franco suíço apreciou significativamente contra quase todas as outras moedas. Para os britânicos, há melhores formas de passar o tempo do que a calcular a miséria que uma libra vale agora na Suíça, e não fiquei surpreendido de ver tão poucos na minha viagem.

 

No entanto, vi muitos visitantes de países asiáticos em alguns dos locais mais bonitos dos Alpes. Isso lembrou-me a minha primeira viagem à Suíça – um interrail na época de estudante - quando vi turistas japoneses alinhados para apanharem o comboio da montanha em Kleine Scheidegg. Estavam a fazer a emocionante subida para a Jungfrau e para a estação de montanha mais alta da Europa, e lembro-me que tinham a sua própria carruagem, talvez para ajudar com a tradução.

 

Naquela altura, o Japão estava supostamente prestes a ultrapassar os Estados Unidos para se tornar a maior economia do mundo. Mas, uma década depois, a bolha do preço dos activos havia explodido, e a sua economia tinha basicamente estagnado em termos nominais. Hoje em dia, é a China que está alinhada para superar os EUA; e a mesma plataforma da estação Kleine Scheidegg tem agora uma carruagem reservada para turistas chineses.

 

No entanto, ainda há muitos turistas japoneses na Suíça; e em Grindelwald, uma das muitas aldeias pitorescas das terras altas de Berna, há mesmo um centro de informação em língua japonesa. Isso revela um lado menos apreciado da história económica japonesa. Em termos de PIB per capita – e considerando a diminuição da força de trabalho do país - o Japão teve um desempenho tão bom como muitas outras economias avançadas nos últimos anos.

 

Além disso, dados recentes indicam que o Japão pode estar a embarcar numa forte expansão económica, impulsionada por factores internos. No segundo trimestre deste ano, a sua taxa de crescimento ficou entre as melhores do G7. Dadas essas tendências, suspeito que a Suíça vai continuar a receber muitos turistas japoneses nos próximos anos.

 

E se a China, com a sua população de 1,4 mil milhões de pessoas, mantiver a trejectória económica dos últimos 20 anos, a Suíça terá provavelmente de construir uma nova estação, muito maior, em Kleine Scheidegg. Claro, a China também poderá ficar aquém das suas aspirações, como muitos cépticos antecipam. Mas, na Suíça, não pude deixar de pensar que as acusações de que a China manipula os seus dados económicos oficiais se tornaram uma farsa. Para apreciar a ascensão da China, basta olhar para a quantidade de turistas chineses nas terras altas de Berna e em muitos outros lugares.

 

É certo que o milagre económico chinês acabará em algum momento. Mas essa altura ainda não chegou. Pelo contrário, a minha viagem deu-me evidências dos dados que mostram uma forte recuperação global em 2017. Essa recuperação é real e deverá continuar a ampliar-se e a incluir mais países - pelo menos por enquanto.

 

Jim O’Neill, ex-presidente da Goldman Sachs Asset Management, é professor honorário de Economia na Universidade de Manchester e antigo presidente da revisão sobre a Resistência Antimicrobiana do governo britânico.

 

Copyright: Project Syndicate, 2017.
www.project-syndicate.org
Tradução: Rita Faria

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