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22 de Agosto de 2008 às 11:47

Uma bibliografia em português

Termino este conjunto de quatro artigos sobre a Índia com a apresentação de uma breve bibliografia sobre o país, facilmente acessível ao leitor português, já que todos os livros estão traduzidos e publicados em Portugal.

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Termino este conjunto de quatro artigos sobre a Índia com a apresentação de uma breve bibliografia sobre o país, facilmente acessível ao leitor português, já que todos os livros estão traduzidos e publicados em Portugal.

O leitor interessado na mudança em curso no subcontinente, de que todos os dias recebe sinais, não deixará por certo de apreciar estes trabalhos que, na sua diferença, se complementam e oferecem uma boa panorâmica do país que caminha para se tornar o mais populoso do mundo.

Um dos mais interessante textos disponíveis sobre a Índia é "Apesar dos Deuses" (Bizâncio, 2007). Escrito por Edward Luce, ex-correspondente do "Financial Times" em Nova Deli, este é um daqueles livros que fluem de forma notável. Combina análise histórica, sociológica e económica, apresentando uma visão pessoal que combina dois ingredientes que habitualmente se encontram separados: sentido crítico e um profundo afecto - algo que o próprio autor promete no prefácio e que cumpre sem falha.

Visto por um estrangeiro que é simultaneamente um bom «insider» (a sua mulher é indiana), «Apesar dos Deuses» ilustra as profundas contradições de um país que desenvolveu de si próprio a representação idealizada de uma "superpotência moral", mas cuja história recente se cose sobre linhas muito sensíveis que, com alguma facilidade, resultam em surtos de violência. A corrupção endémica do aparelho de Estado, a relação difícil com o Paquistão e a dança com a China e os EUA são temas fortes deste livro que deixa algumas frases notáveis na lembrança, como aquela de que a Índia nunca perde uma oportunidade de perder uma oportunidade.

"A Índia no Século XXI" (Editorial Presença, 2006) funciona como um notável espelho de "Apesar dos Deuses": trata-se neste caso de um indiano que vê o país a partir de fora. O autor, Pavan Varma, é diplomata de carreira, e procura ir além das imagens idealizadas e simplistas que vão sendo desfiadas sobre a Índia como potência moral, reduto final do não-materialismo, reino da espiritualidade na Terra. A análise de Varma deixa algumas ideias alternativas. Eis uns poucos exemplos:

• Os indianos não são nem nunca foram "metafísicos";• Os conceitos de moralidade e de nobreza de princípio são caros aos indianos enquanto constructos teóricos, mas amplamente ignorados na vida real dada a sua falta de aplicabilidade;• Os hindus não são pacíficos, apenas práticos na compreensão dos limites da violência; • Os indianos são obcecados pelo poder, de tal modo que "três indianos não conseguem trabalhar juntos durante mais que cinco minutos. Todos lutam pelo poder..."

"Made in India", de Ashutosh Sheshabalaya (Centro Atlântico, 2006), centra-se mais na realidade empresarial indiana. Ou seja, o seu foco é menos aberto à cultura e sociedade e mais recomendável para o leitor interessado na paisagem de negócios. O livro dedica particular cuidado aos casos do outsourcing, software e biotecnologia e apresenta os argumentos que poderão fazer da Índia a próxima superpotência, um tema recorrente na literatura sobre este país. Como curiosidade, inclui uma tradução de "Os seis homens cegos e o elefante", uma fábula antiga usada por Henry Mintzberg, para explicar a mutiplicidade de perspectivas que podem ser vertidas sobre o mesmo fenómeno.

Por fim, mas não por último, uma referência obrigatória para compreender a emergência do papel da Índia é "O Mundo é Plano" (Actual, 2005), o famoso livro de Thomas Friedman, jornalista do "New York Times" e Prémio Pulitzer. "O Mundo é Plano" não é, em rigor, um livro sobre a Índia. Trata-se de antes de uma obra sobre o achatamento do mundo, isto é, a criação de uma sociedade global construída sobre plataformas tecnológicas de comunicação e informação. É a integração do trabalho e a colaboração dispersa possibilitada por estas tecnologias que ajuda a criar um mundo até agora desconhecido. No mundo plano, um telefonema para o call centre de uma empresa informática pode pôr o utilizador português em contacto com um goês que fala a língua portuguesa, sentado no open space de uma empresa envidraçada em Bangalore. Admirável mundo plano.

Estas notas de leitura encerram o conjunto de quatro textos de Verão sobre a Índia. O próximo texto voltará aos temas sérios de gestão. Mais precisamente à boneca Barbie.

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