Opinião
Um bom desempenho
Os finais de ano são, usualmente, um tempo de balanço. Ora, se pensarmos na governação do actual executivo – marcada por uma forte coesão política e pela favorável "coabitação" com o Presidente da República ...
Os finais de ano são, usualmente, um tempo de balanço. Ora, se pensarmos na governação do actual executivo – marcada por uma forte coesão política e pela favorável "coabitação" com o Presidente da República –, sobressai, pela positiva, a acção de um Ministro: Manuel Pinho.
Aquando da tomada de posse do Governo, em 2005, a economia portuguesa passava por consideráveis dificuldades – acentuadas entretanto pelo impacto que a abolição das barreiras ao comércio têxtil decidida pela Comissão Europeia (CE) teve nos têxteis portugueses e, ainda, pelas deslocalizações que afectam os países da Europa ocidental – e vinha definhando, sem crescimento económico. Paralelamente, enfrentava o problema da queda real de investimento desde 2002 (que é em termos de crescimento de curto prazo, uma das principais causas que explicam o facto de divergirmos da média dos países da UE e, em termos de crescimento de longo prazo, a uma das razões que explicam a fraca produtividade no país) e um acentuar do aumento do desemprego, que de 2002 a 2005 quase duplicou.
Além disso, importa recordar que, cada vez mais, as economias nacionais dependem, por uma razão ou por outra, da economia global, e que as principais economias europeias – nomeadamente a alemã e a francesa – têm vivido períodos sociais conturbados, resultantes da pressão suscitada pelos elevados níveis de desemprego. Ora a economia portuguesa, que está também sujeita a estas pressões, manifesta agora sinais encorajadores de inversão de ciclo. A par de uma evolução positiva das contas públicas – existindo a expectativa de, no final deste ano se cumprir a meta do défice orçamental de 4,6% do PIB –, a economia nacional pode vir a registar um crescimento de 1,4% este ano, o que supera as estimativas apresentadas pelo Banco de Portugal, pela CE, pela OCDE e pelo FMI.
Animador é também o facto de este crescimento estar a ser sustentado, sobretudo, pelo aumento das exportações. O sector exportador mostrou, em 2006, grande dinamismo e as exportações de bens e serviços mantiveram, ao longo de todo o ano, um bom desempenho, sobretudo para países fora da UE. E no que refere ao peso das exportações no PIB, Portugal foi mesmo – devido à competitividade das suas empresas – o país mais exportador da Europa do Sul (à frente da Espanha, França ou Grécia), prevendo-se que esta situação prossiga (acentuando-se) em 2007.
Aqui é preciso reconhecer que um dos maiores sucessos de Pinho foi o de ter conseguido inverter o pessimismo instalado juntos dos agentes económicos. Os empresários portugueses estão hoje mais confiantes quanto ao futuro, com vontade de investir e de empreender e, dessa confiança, dependerá a boa retoma da nossa economia. Nesta viragem de século em que o mundo tem mudado de forma extremamente célere, há medida que surgem uma série de dificuldades emergem, simultaneamente, oportunidades interessantes para as empresas e caberá aos empresários – em particular aos que demonstrem maior iniciativa e conhecimento – assegurar a resposta a essas oportunidades.
Em segundo plano, a procura interna tem também sido responsável por este crescimento. Os dados do Banco de Portugal apontam para a continuação da recuperação do consumo privado (indicador que subiu nos últimos cinco meses consecutivos) e, de facto, o consumo das famílias acelerou.
Quanto ao investimento, a performance ainda não é, globalmente, satisfatória, facto que se deve, em parte, à redução do investimento em construção. Mas a verdade é que hoje atrair investimento estrangeiro representa um desafio hercúleo para qualquer país desenvolvido. Não obstante, ao longo de 2006 muitas empresas internacionais procuraram Portugal como destino de investimento: Ikea, Repsol, Abertis, Advansa, Netjet e os grupos turísticos Aman Resorts, Starwood e Hilton. E ciente de que importa não só atrair novo investimento como saber mantê-lo, Pinho tem pugnado – pese embora as deslocalizações – por louvar a presença das empresas internacionais que, em Portugal, produzem bens de elevado valor acrescentado, aumentam as nossas exportações e criam emprego.
A "jusante" de todo este esforço os efeitos ao nível do desemprego já se fazem sentir. Segundo o Eurostat, a taxa de desemprego em Portugal situa-se actualmente nos 7,2%. De acordo com o Banco de Portugal a oferta de emprego tem crescido e, no terceiro trimestre deste ano, a taxa de desemprego atingiu os 7,4%. Considerando que há um ano a taxa de desemprego era de 7,8%, esta diminuição é, sem dúvida, um indicador muito positivo para um crescimento sustentado da economia portuguesa.
Na realidade, a estratégia do actual Executivo para relançar a criação de emprego parece apoiar-se muito no Ministério da Economia. E se o modelo inspirador de Pinho tem sido a Irlanda – país que registou, ao longo da década de 1990, um expressivo crescimento económico (construído à base de investimento estrangeiro) e um concomitante incremento do emprego (na ordem dos 673 mil novos postos de trabalho) –, é preciso não esquecer que a Espanha é um outro notável (senão hodiernamente, o mais notável) exemplo de crescimento sustentável. Segundo dados do Eurostat, entre 1995 e 2005, a Espanha – tão perto e, paradoxalmente, tão longe! – criou 6,4 milhões de empregos, ou seja, um terço do total do emprego da UE (18 milhões de novos postos de trabalho nos então 15 países). Em termos absolutos a Espanha foi – e continua a sê-lo – líder na criação de emprego.
Ao fim de dez meses consecutivos de recuperação, os dados do Banco de Portugal relativos aos indicadores de conjuntura confirmam a trajectória ascendente da economia. E este relançamento, acompanhado da concomitante diminuição do desemprego, deve-se, em muito, à determinação pessoal de Manuel Pinho – tantas vezes criticado pelo "excesso de optimismo" – ao empenho da Agência Portuguesa para Investimento (API) e à confiança que o actual Governo incutiu ao agentes económicos de um país genericamente deprimido. Não haja dúvida, o optimismo promove a construção e o empreendedorismo; o pessimismo destrói e desencoraja.